24 janeiro 2008

Românticos São Loucos Desvairados

Angel Boligan - Dom Quixote "El Universal"


Em 2005, se não me falha a memória, em alguns dias de férias que passei lá em Cabo Frio, um dia eu ouvi, enquanto estava na piscina do hotel, uma música que me chamou a atenção pela melodia, mas principalmente pela voz do cantor, que me remeteu imediatamente a alguma coisa anterior, à alma da Tropicália, ou algo que na hora eu não soube identificar. Tampouco soube, na ocasião, quem era o cantor. Aquilo ficou marcado em mim, mas esquecido.
Algum tempo depois eu ouvi e comecei a curtir duas músicas na voz da Rita Ribeiro, “Contra o Tempo” e “Românticos”, e fiquei sabendo que o compositor era um “tal” de Vander Lee. Eu morava, então, em Belo Horizonte e fiquei sabendo que ele era de lá. Conheci o Vander Lee pessoalmente só daí mais alguns meses, convidado que ele foi de Paulinho Moska, em um show que assisti lá em BH. Um cantor/compositor talentosíssimo, com uma voz melodiosa e personalíssima. Fui atrás de sua obra, e hoje é um dos compositores brasileiros que eu mais escuto. Gosto da melodia do seu canto, do seu lirismo, do romantismo e do humor. São letras ricas e criativas. Que bom é perceber que nossa MPB está viva!

Dom Quixote

Da composição “Românticos” eu tirei o título dessa resenha de hoje. Um dia uma amiga de São Paulo me “acusou” de romântico, e eu fiquei um pouco envergonhado. Eu a achava tão antenada, tão moderna, e na época aquilo me soou como um defeito. Em 2001 eu descobri, durante a feitura de um trabalho de final de curso, que o romantismo está muito vivo e atual. Teixeira Coelho, em seu livro “Moderno Pós-Moderno”, me mostrou que o esvaziamento de nossa cultura de massa perpetuou em nós o anti-herói romântico. Seremos eternos quixotes a lutar contra obstáculos cada vez maiores, pois nossa dimensão humana é predestinada a lutar entre o efêmero (e mortal) e o eterno que há em nós. Miguel de Cervantes, em seu “Dom Quixote de La Mancha” já sabia disso lá em 1602... Dom Quixote sempre foi um dos meus romances preferidos, e a sua figura sempre foi uma imagem recorrente na minha memória.

Enfim...

Teixeira Coelho me fez ver que o Pós-Modernismo é na verdade uma espécie de "barroco do Romantismo". Coisas que a gente estuda lá em arquitetura, essa denominação de períodos históricos por “estilos”, mas que valem pras artes em geral, e principalmente para determinados comportamentos humanos. Enfim, continuamos românticos, e isso não é defeito ou vergonha. Hoje não me preocupa ser romântico, o que me preocupa é ver o egoísmo cada vez maior de gerações inteiras que pensam e vivem apenas ao redor do próprio umbigo. Talvez por isso a vida humana esteja valendo cada vez menos. Os reflexos estão aí no noticiário de cada dia, uma violência cada vez maior.


Eu prefiro continuar a ser, eternamente, um louco romântico.

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Figura 2 - Dom Quixote - Pablo Picasso (1955)



Vá atrás dos links

Vander Lee
http://www.vanderlee.com.br/novo/

Rita Ribeiro
http://www2.uol.com.br/ritaribeiro/

Dom Quixote
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/05/17/000.htm

Pablo Picasso

http://www.10emtudo.com/artigos_1.asp?CodigoArtigo=47

Angel Boligan
http://cagle.com/artists/Boligan/main.asp

Livro: Moderno Pós-Moderno – Teixeira Coelho
http://www.planetanews.com/produto/L/66010/moderno-pos-moderno-teixeira-coelho.html

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