25 janeiro 2008

O Bloco dos "Sem Nada"

Angel Boligan

Há pessoas que vivem sem poesia nenhuma, sem música, fazem cara feia pras artes, teatro, detestam cinema, não gostam de ler. Fico pensando em que mundo elas vivem, qual o sentido da vida então, se não dá pra desfrutar um pouquinho, respirar, curtir a manifestação do belo e crescer por ele, e através dele?

Atenção! Citei o belo, mas alerto que as artes plásticas há muito tempo já deixaram de viver apenas dele. Vejo as artes plásticas como uma região de fronteira, que pra mim anda a par e par com a ciência. Sabe por quê? Porque a arte nos prepara para viver o futuro. Quando os artistas “modernos” fizeram a ruptura que originou todos os movimentos artísticos que vivenciamos no pós-guerra, estavam nos preparando para a era tecnológica que viria a seguir. O cubismo (e os outros ismos) nos prepararam para viver essa vida fragmentada de internet que salta de um nó a outro, de tela pra tela, tv a cabo com direito a zil canais e muito zap e zap e zap, dois telefones celulares tocando ao mesmo tempo em que estou ligado no orkut, no msn, no gtalk, no skype, e também no telefone fixo.


A Boca do Abismo que Engole Tudo

Já reparou que a cada dia estamos acrescentando novas “letras” ao nosso alfabeto? Tudo bem, não são exatamente “letras”, são símbolos mais parecidos com ideogramas, mas têm a mesma função. São ícones que usamos para identificar coisas, tal como os sinaizinhos do seu computador ai na barra de ferramentas. Já imaginou ter que alfabetizar alguém e depois ensinar também cada um desses símbolos novos que se multiplicam a cada dia, indefinidamente? Pois é... Essas coisas nos distanciam cada vez mais daqueles que não têm acesso à educação e à informatização. Não sei aonde chegaremos com tamanho abismo. Será que um dia conseguiremos minimizá-lo, ou ele vai crescer e crescer até nos abocanhar?
Quem não tem educação na idade certa (ou errada mesmo), quem mal tem dinheiro pra comida e pra se vestir, como é que vai pensar em arte, viver de arte? E lá se vai a boca do abismo se abrindo a ponto de nos engolir, como aquele buracão do metrô lá em São Paulo, que ameaçou engolir um pedaço da cidade, e engoliu.

Pequenas Grandes Mudanças

Já passei por tudo isso, mas não acho justo que alguém que trabalhe 8 horas e queira estudar, tenha que se apinhar em ônibus lotados, sem banho e sem jantar, para enfrentar uma escola noturna, geralmente mal preparada para recebê-lo. Não vejo por aí ninguém lutando por redução no horário de trabalho de quem estuda, isso não seria uma luta justa? Quem estuda deveria ter o DIREITO de trabalhar apenas 6 horas por dia. Aliás, turnos de 6 horas seriam bons para todos. Em minha opinião o comércio e a indústria, e até mesmo os órgãos governamentais, deveriam funcionar em 2 turnos de 6 horas cada. Já imaginaram quantos postos de trabalho seriam gerados?

Revolução Industrial

Revolução Industrial

Quando esse turno de 8 horas foi estabelecido, há muitos anos atrás, foi uma conquista, com certeza, mas hoje ele é absurdamente escravagista, pois nossas cidades cresceram muito e a maior parte da população operária e trabalhadora foi expulsa para as periferias, tendo que se deslocar a grandes distâncias para cumprir sua jornada de trabalho. Se trabalham 8 horas e gastam no mínimo 2 horas por dia de deslocamento, que tempo sobra para as outras coisas? Teoricamente seriam 8 horas pra dormir, e aí já se somam 18, sobram 6, se considerarmos que um turno escolar dura no mínimo outras 4 horas, sobrariam 2 horas para os outros deslocamentos, para tomar banho, para comer e para o lazer. Ou seja... Para o pobre ter acesso à arte e à educação, ele tem que, no mínimo, deixar de dormir. Na verdade isso já acontece, os trabalhadores de classe mais baixa dormem cada vez menos. As conseqüências disso são deficiências no aprendizado, apatia diante da vida e um número maior de acidentes de trabalho.

Angel Boligan - efeito estufa

Efeito Estufa

Vivemos em cima de um barril de pólvora prestes a explodir. Não dá para ver só um lado da equação, pois todas as pontas estão ligadas. Há pessoas que vivem sem poesia nenhuma, sem música, nunca tiveram acesso às artes, ao teatro, desconhecem cinema, não aprenderam e nem sabem se gostam de ler, e se as coisas continuarem assim, sejamos realistas, nunca saberão.
Empresários e políticos, que podem mudar essas coisas, não se mexem. Não enxergam que os tempos são outros, e que é preciso afrouxar um pouco os laços, abrir um pouco os cofres, sob a pena de, em muito pouco tempo, não poderem desfrutar das suas benesses e privilégios. Vivemos tempos de menos ostentação, precisamos nos preparar para um “boom” cada vez maior de pessoas que simplesmente não terão trabalho. Precisamos nos preparar também para o crescimento da população idosa, mas isso já é um outro assunto. O planeta está esquentando, e não é apenas por causa do efeito estufa.

Siga o Link:

Angel Boligan – Caricaturista Mexicano nascido em 1965.
http://www.lajiribilla.co.cu/2005/n204_04/204_29.html

Cubismo
http://www.mac.usp.br/projetos/seculoxx/modulo1/construtivismo/cubismo/index.html

História da Justiça e do Direito do Trabalho

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