27 julho 2011

Faça / Não Faça!

Silvio Vinhal

Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você.

Não ignore, não menospreze, não despreze, não desmoralize, não trate mal, não roube, não atropele, não mate, não exclua, não estupre, não discrimine, não trate com preconceito, não julgue, não faça chorar, não esqueça, não falte com o compromisso, não engane, não traia, não iluda.

Faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem a você.

Faça carinho, faça amor, faça amar, faça feliz, faça rir, faça acreditar, faça ter fé, faça sentir-se melhor, motive, ajude a crescer, acolha, abrace, sorria, sorria novamente, com os olhos, ouça, caminhe ao lado, apóie, perdoe, quando errar, reveja sua postura, desculpe-se, permita-se voltar atrás.

O mundo anda sem graça, o mundo anda triste, o mundo anda meio rápido, meio vazio, meio besta, meio escroto. O mundo anda meio arremedo do mundo.

Pra não sucumbirmos ao baixo astral precisamos semear flores, amores, jogar luz nos cantos. Recuperar valores. Há algum tempo ouvia muito a frase: “Que mundo estamos criando para os nosso filhos”. Hoje eu acho que a frase que faz mais sentido é: “Que mundo nossos filhos estão criando para nós”.

Torço o nariz por aí com vizinhos que não se cumprimentam no elevador, e que sequer respondem ao cumprimento, quando desejo um bom dia. Também para gente que não tem consciência do espaço que ocupa, e sai por aí trombando e dando bolsadas e mochiladas na gente o tempo todo.

Sofremos de inconsciência de nós mesmos. Há dias que são apenas um número no calendário. Dias apagados, em que esquecemos de viver, em que sequer somos nós mesmos. Pior é quando esses dias “brancos” se tornam semanas, meses, anos.

Nos regozijamos e nos entristecemos e às vezes, quem está do nosso lado nem nos percebe. Será que com o tempo ficamos transparentes? Não falo de mim, especificamente, mas de nós, seres humanos, ou quase humanos.

Eu sou o otimista, aquele que vê o copo sempre meio cheio. No entanto, às vezes também sinto cansaço diante do mundo. Tanto por fazer. Tão pouca gente interessada...

Vam’bora mudar as coisas pra melhor ?

22 julho 2011

Odeio ser gordo!

Silvio Vinhal


Odeio ser gordo. Digo isso e sorriem-me os quibes fritos, as coxinhas, os quiches, as lasanhas, as pizzas, os pavês, os chocolates, as mousses, os sorvetes, os queijos... Ah! Os queijos! Ainda mais para mim, que sou mineirinho, não da gema, mas das beiradas, lá de Ituiutaba. Terra das pamonhas, dos doces e das deliciosas manteigas “de leite”.

Só pensar em queijo e sorriem para mim os pães de queijo. Justo para mim, que sei o que é um bom pão de queijo de avó, com aquele cafezinho inconfundível, que peço sempre a receita e nunca consigo fazer nem parecido. Amor de avó é um tempero sem igual. Quem tem, tem. Pra quem não tem mais, o que resta é uma doce melancolia repleta de sons, cheiros e memórias.

Eu ainda tenho uma avó. Miudinha, esperta, que adora TV, gosta de conversar, de morar sozinha, e de ficar acordada até tarde. Vó Lóla, miudinha, mas um furacão em forma de gente, capaz de ir de zero a 100 em 2 segundos. Adepta de sal – muito sal – e de pimenta – muita pimenta. Essa, do cafezinho, dos pães de queijo deliciosos, do feijão preto, da carne de porco, e que faz um arroz cujo sabor jamais encontrei em outro lugar. Penso que não existe um arroz mais gostoso que aquele.

A outra avó, infelizmente, só tenho no coração e na memória. Uma mulher grande, mezzo italiana, de cabelos incrivelmente brancos. Calada e terna. Carinhosamente discreta. Lá, sorriam-me sempre deliciosas macarronadas, ou a “pizza da vó Nenê”, que na verdade era uma torta de frango, de.li.ci.o.sa! Na casa dessa avó lembro que me sorriam deliciosos pavês de ameixa, ai meu Deus!!!

Minha mãe sempre tirou leite de pedra. Fazia qualquer comida ter cheiro e um sabor maravilhosos. Aprendeu direitinho a valorizar a vitamina contida em cada alimento, cada pequeno pedaço de carne, ainda que às vezes o dinheiro só desse pra comprar barrigada de porco pra aproveitar a banha e utilizar a pouca carne para dar sabor à comida. Depois, quando as vacas engordaram um pouquinho, ela ficou sofisticada e fazia sorrir para nós deliciosas galinhadas, frangos com macarrão e pratos árabes que não sei de onde ela tirava a receita, como aqueles deliciosos quibes assados ou Mafufos enrolados em folhas de couve ou repolho. Esses, lembro bem, sorriam-me muito!!!

Meu pai não deixava por menos. Herdou a boa mão da mãe e gostava de fazer pão de queijo de batata, rosquinhas enroladas com leite condensado – cujo nome mais tarde descobri ser “Rosca Húngara” e, aos domingos, um delicioso arroz com suã de porco.

Não podia ser diferente, herdei todo esse bom DNA para a cozinha, claro! Modéstia à parte, faço rangos bem gostosos, embora prefira seguir a intuição do que utilizar uma receita. Às vezes erro, mas prefiro ter alguma liberdade para criar.

Enfim... Odeio ser gordo. Porque preciso emagrecer, mesmo sabendo de tantas coisas deliciosas que me sorriem (hoje mais nas lembranças que na vida real). Hoje são as saladas que me sorriem, e eu as adoro. Abro mão de qualquer sabor pelo prazer de me sentir leve, íntegro, ágil. Procuro fazer tudo certinho e, mesmo assim, talvez o Karma de tanta coisa gostosa que já comi na vida, ainda me persiga.

20 julho 2011

A Amizade

Silvio Vinhal

A amizade, para mim, é como um amálgama que junta todas as outras coisas. Não acredito em relação entre seres vivos, humanos pelo menos, se não for por meio dela. Não sei se posso dizer que tenho muitos amigos, mas tenho amigos muito valiosos. Não importam em quantidade, mas na qualidade de seres humanos que possuem.

Eu talvez não seja para eles um amigo muito bom. Não gosto muito de telefone, sou desligado para datas de aniversário, esqueço nomes com facilidade, e acabo me dedicando tanto ao trabalho que, às vezes, me torno quase antissocial.

No entanto, não esqueço dos meus amigos. Às vezes digo que gostaria que no fim dos tempos, de alguma forma, fosse possível que as pessoas que amamos vissem, de uma forma mais concreta, o quanto as amamos.

Disponibilizo para os amigos uma imensa conta no banco da minha tolerância, do meu carinho, da minha atenção, do meu amor. Encaro até mesmo alguns vacilos, pisadas de bola ou pequenas “traições”. Acredito nas voltas, sou capaz de perdoar verdadeiramente. Procuro sempre ter tempo, até mesmo quando ter tempo significa “tolerar” alguns abusos.

Sinto uma saudade quase visceral dos amigos que desapareceram no tempo. As vezes me pego pensando se me esqueceram, ou onde foi que se perderam, já que hoje todo mundo está ao alcance de alguns cliques. A internet está aí e é capaz de suprir muito da saudade, da distância, do tempo passado longe. Então, me pego pensando se aqueles que sumiram simplesmente me esqueceram, morreram ou se vivem num mundo onde a internet ainda não faz muito sentido.

Saudade visceral que aumenta, quanto mais era próxima a amizade. Cadê esse povo, meu Deus? Às vezes fico com a impressão de que eram atores em um ato da minha vida, e que sumiram porque tiveram que se revestir de outros personagens nos atos subsequentes. Uma idéia maluca que já imaginei até transformar em peça de teatro.

Minha amizade por meus velhos e novos amigos hoje está, sobretudo, na rede. Não conhece fronteiras ou línguas. Aos poucos vou reunindo, descobrindo, reagrupando amigos de épocas e lugares diferentes, e todos são essenciais para mim. Cada um com sua própria importância na forma como me ajudaram a ver o mundo, a amar, a sentir-me sempre e sempre, amparado e amado.

Não posso citar nomes sem correr o risco de esquecer alguém, no entanto, eles (os nomes) fervilham na minha cabeça enquanto escrevo, junto com os rostos e as cenas de algumas lembranças que ficaram preservadas em minha memória.

Peço a Deus que preserve cada um deles, que nos propicie novos encontros pela vida, ainda que seja para falar dos filhos e netos, para falar de dores e perdas, de medos e mazelas. Sobretudo, que seja para viver e para falar de quanto a vida é bela, porque nos sentimos seguros nos braços (ou no alcance – ainda que via internet) do carinho dos companheiros que escolhemos para compartilhar a vida.


17 julho 2011

LOUCO DE MEIA IDADE


A proximidade dos 50 anos, hoje, está tão visível para mim quanto aquela imagem da nave alienígena que paira sobre New York no filme Independence Day, de 1996, dirigido por Roland Emmerich. Estou no meio dos 47, ainda resta um tempinho para emplacar meio século, mas já me considero no período de preparação para essa data que considero um marco importante.

Quando olho para o passado tenho a impressão de que vivi várias vidas. Cada período, pontuado por uma cidade diferente, pessoas diferentes, que nem sempre transitaram comigo de um período para o outro, infelizmente.

Vivi 20 anos em Ituiutaba, 10 anos em Goiânia, 10 anos em Uberlândia, 3 anos em Belo Horizonte e 4 e meio em Brasília, onde resido atualmente e, aparentemente, ficarei por um período mais longo, dadas as condições que me trouxeram aqui.

Sempre fui daqueles para os quais os últimos dias do ano são de balanço sobre tudo que aconteceu até então, até mesmo porque sou capricorniano, que aniversaria em 27 de dezembro. Esse período tumultuado entre o Natal e o Ano Novo, onde quase sempre me “esqueceram” os parentes, amigos e colegas de escola e trabalho. Natural, cada um cuidando da sua vida e envolvido na sua própria e cruciante rotina de agendar festas, férias e compra/troca de presentes. Aos poucos me acostumei e “até” parei de reclamar internamente.

Mas, voltando ao assunto que me levou a escrever esse texto: Aproximar-se dos 50 anos, ou da “meia idade” principiou em mim um grande e melancólico processo de reflexão sobre toda a minha vida até então. Acordo e adormeço com o desejo de resgatar vários “eus” que por uma coisa ou outra parecem ter ficado perdidos em alguma dessas “vidas” que tive, e que acabaram sufocados por “forças ocultas”, ou por fraqueza minha, ou por necessidade, ou por desatenção. Minha culpa, minha única culpa, claro!

O fato é que os cinquentinha chegam aí trazendo como novidade uma vontade imensa de me reinventar, de chutar o balde em muitas coisas, de destacar aquilo que, para mim, sempre foi mais importante e que, por um motivo ou outro fui obrigado (?) a deixar em segundo plano, a deixar para depois.

Música, artes plásticas, literatura, poesia, gente... Não necessariamente nessa ordem. E, principal e essencialmente, resgatar o que há de melhor em mim, e aprender a extirpar, aos poucos, aquilo que a vida me acrescentou – sem que eu tivesse tido tempo para fazer juízo e saber se queria ou não.

Enfim, está aberto o tempo para acrescentar à minha história tudo aquilo que eu escolher, e de extirpar tudo que se tornou obsoleto, indesejável, pesado excesso que não quero e nem vale a pena mais carregar.

Sigo assim, como um mutante louco lobo de meia idade. Durma-se com um barulho desses!


by Silvio Vinhal



15 julho 2011

Duas regrinhas para viver mais

Silvio Vinhal

O trânsito está cada dia pior.

De quem é a culpa? Dos maus motoristas ou dos planejadores urbanos corrompidos pelos especuladores imobiliários?

Economia estável, poder aquisitivo em alta, juros baixos (?) e financiamentos a perder de vista são os responsáveis pelo “boom” de automóveis em nossas cidades. O planejamento urbano, no entanto, não acompanha as mudanças tão rápido assim. Nossas cidades, Brasília incluída, repetem um planejamento medíocre e inadequado que moldou a maioria das cidades pelo mundo afora, com ruas e calçadas estreitas. Áreas superpovoadas proliferam sem o contraponto de vias calculadas para receber o impacto do grande fluxo demandado por edifícios residenciais, bem como escolas, estádios, edifícios públicos, hospitais ou igrejas.

Brasília, em particular, cresce sem ter aprendido nada com o mestre Lúcio Costa. Nem mesmo o plano piloto, com suas amplas avenidas de 12 pistas resiste à proliferação de motoristas barbeiros, com seus carros zero quilômetro, reluzentes ou empoeirados, ou suas carroças caolhas e capengantes.

A maioria dos motoristas pensa que basta comprar um possante e sair por aí ganhando chão. Eu corro léguas daqueles que são impacientes e mudam de pista o tempo todo. Estatisticamente está comprovado que são eles os que mais contribuem para que o trânsito empaque. Justificável, pois para mudar de pista eles param, ainda que por alguns instantes, duas pistas. Ao mudar de pista constantemente, eles bagunçam o tráfego, e aumentam a probabilidade, para si, ou para os outros, de provocar uma colisão.

Também fujo de motoristas que não sabem calcular a distância que devem manter em relação ao carro da frente, de acordo com a velocidade que trafegam. Regra básica das instruções para tirar a habilitação que, aparentemente, poucos se lembram, ou acham que só vale para as rodovias. Dirigir colado no carro da frente é assinar um atestado de burrice, porque o motorista “abre mão” de qualquer possibilidade de se defender, ou se safar, caso o motorista da frente freie bruscamente, por necessidade ou por qualquer outro problema que haja com ele ou com o carro.

Duas regrinhas básicas que podem melhorar muito a convivência, nada pacífica, a que somos obrigados a nos submeter diariamente para trabalhar, nos divertir, levar os filhos à escola ou voltar para casa. Duas regrinhas que podem salvar vidas. No trânsito, não devemos apenas pensar em chegar mais rápido ao nosso destino. Nossa postura pode e deve ser defensiva e didática. Os bons motoristas são capazes de ordenar o trânsito, torna-lo melhor. De que lado você está?