08 novembro 2011

DESCOMPASSO (Geografia) - Divulgação


7 bilhões de habitantes, redes de comunicação hiper-conectadas em tempo real e integral, e ainda nos sentimos sós.

Nem a "iminência do apocalipse anunciado serve de alento pra essa rotina amarga que se perpetua..."

Mais do que nunca é tempo de construirmos pontes reais com o outro. Pontes que começam com um simples olho no olho na hora de dizer e responder a um "bom dia".

Se não dermos conta das coisas simples, jamais conseguiremos solucionar as coisas mais complexas.
Música para incomodar e fazer refletir.

28 outubro 2011

Será ?




Diante da desesperança do mundo, da minha indignação com as mazelas que vejo em minha cidade, em meu país. Diante de tanta roubalheira, tanta falta de educação, de tanta pobreza (tanto material quanto de espírito) eu às vezes me pergunto:

Até onde vai minha parcela de culpa? O que faço para mudar o mundo e deixá-lo um pouco melhor?

Será que sou suficientemente paciente, benevolente, gentil, generoso, didático, amigo, cortês, honesto? Será que sei perceber meus egoísmos, minha intolerância, minha própria imutabilidade? Será que devolvo ao mundo um pouco de tudo aquilo de bom que já recebi?

Silvio Vinhal em Brasília 28/10/2011 09:57

21 outubro 2011

Deixar o mundo melhor depois que eu passar

Deixar o mundo melhor, depois que eu passar. Acho que muito cedo na minha vida eu cheguei a essa máxima. Nunca almejei ser só mais um na multidão, passar despercebido, curtir a vida ao máximo, sem compromisso com os outros. Nunca pensei estar no mundo para ser servido. Minha condição social, inferior, redimida gradualmente graças ao trabalho e principalmente ao estudo, colocou em cada prateleira os valores de respeito ao meu próximo, e uma consciência de justiça social que passou a ser o meu referencial para me mover no mundo. Acho que tem dado certo. Levei a sério aquela história de escrever o livro, plantar uma árvore... fiz até um pouco mais que isso.

O livro ainda não publiquei, é verdade. As árvores que plantei, hoje estão por aí entregues à própria sorte. Algumas sobreviveram, tenho certeza, e alguma contribuição devem estar dando à paisagem, e até para diminuir o efeito estuda (assim espero). Mas é pouco, quero fazer muito, muito mais. Hoje quero plantar ipês, primaveras, flamboyants, e mais uma multidão de árvores frutíferas e florais. Gosto de ver árvores carregadas de flores, ou de frutas, assim como gosto de ver arvores “caducas”, sem folhas no período de inverno, exibindo seus galhos bifurcados contra o céu. Talvez até pelo contraste, e por saber que ali, apesar de parecer o contrário, há muita vida e resistência, seja contra o frio ou contra a seca.

Fico triste quando vejo pessoas atirando coisas na rua, quando saem da sala de cinema sem carregar o seu próprio lixo, quando passam pelas pessoas que cuidam da limpeza e os tratam com desprezo, como se não existissem. São pagos pra fazer o serviço sujo, com certeza, mas são pessoas que merecem o nosso maior respeito e consideração, e também, alguma ajuda. O que custa cuidar do meu próprio lixo, contribuir um pouquinho e tornar a vida de todo mundo, muito melhor ? Essa lição, lembro-me bem o dia em que aprendi. Eu vinha do interior de Minas e já era universitário em Goiânia. Estava na rua com um colega, e num dado momento acho que ele chupou uma bala e guardou o papel no bolso, para não jogar na rua. Na hora eu achei aquilo estranho, mas entendi que era EDUCAÇÃO. Aprendi a lição para nunca mais esquecer.

Outro dia, conversando com uma amiga jornalista, culta, ela se espantou quando eu mencionei que achava um absurdo as pessoas jogarem papel higiênico diretamente no vaso sanitário. Será que essas pessoas nunca pararam para pensar que aquilo vai virar um grande problema lá na frente, entupindo canos de esgoto e poluindo córregos e rios? E pensar que aqui em Brasília, no banheiro de um grande shopping, há um cartaz pedindo: “Por favor, jogue o papel no vaso”. É um absurdo.

Para viver bem, precisamos ocupar o nosso espaço com parcimônia, porque o dividimos com milhares de pessoas. Não basta pensar no hoje, porque tem coisas (como árvores, por exemplo) que só darão sombra e fruto daqui há muitos anos. Não dá pra fechar os olhos e viver apenas pra nós mesmos uma vida auto-centrada, mesquinha e egoísta, por mais que o mundo nos induza a viver assim, precisamos resistir.

Eu quero deixar o mundo melhor depois que eu passar por ele, e quero fazer isso sem visar nenhum lucro. Apenas por agradecimento àqueles que fizeram dele um lugar melhor para eu viver, e em respeito aos que virão depois de mim. (republicação)

14 outubro 2011

É O QUE É...


De tempos em tempos vemos se repetir no mundo, as mesmas e velhas demonstrações de fanatismo, desrespeito ao próximo e violência.
Será que isso nunca terá um fim?
A julgar pela mensagem bíblica do Eclesiastes, não.

"O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol" (Eclesiastes 1:9)

A canção "É o que é" foi composta por mim e integrou o Álbum Cenário, de 2001.
Hoje penso que ela parecia ser profética sobre o que estava por vir no 11 de setembro.
10 anos se passaram, será que aprendemos alguma coisa?

A grande verdade é que todos nós somos, ao mesmo tempo, algozes e vítimas.

13 outubro 2011

FORMAS DE AMAR

Quem ama o corpo ama o momento, é como o incêndio vermelho
de um sol derradeiro que agoniza no céu.

Quem ama a mente recebe as águas de um rio límpido e inesgotável
que se renova e cumpre a missão de saciar a sede humana.

Quem ama o ser que mora no outro é parte do sol que incendeia,
é parte do rio que nutre a alma, completa a constelação de estrelas eternas,
e tudo ao mesmo tempo sente e partilha, num fogo que consome e cria.

Poesia: Formas de Amar e Gravura: Tempo I - Autoria: Silvio Vinhal

30 setembro 2011

6 Horas para Viver


A jornada de trabalho de oito horas diárias na indústria foi instituída no Brasil pelo Presidente Getúlio Vargas, em 1932, e portanto caminha pra completar 80 anos em 2012. Antes dela, os trabalhadores eram submetidos a jornadas exaustivas de 10 a 12 horas, podendo chegar até ao absurdo de 17 horas diárias.

Há 125 anos, em Chicago, a palavra de ordem era: “8 horas de trabalho, 8 horas de sono e 8 horas de lazer.” Esse conceito foi mais tarde conquistado e ganhou espaço no planejamento, em diversas instâncias. Parecia razoável.

Após todo esse tempo transcorrido e mediante o crescimento das cidades, o aumento da população e às dificuldades de deslocamento, de convivência em família e de agregar à vida outras atividades que não sejam “sono” e “lazer” levam-me a pensar que precisamos lutar por turnos menores, de 6 horas.

2 turnos de 6 horas comporiam o novo “horário comercial” ou “horário da indústria” dobrando as vagas de emprego e, com certeza, também a produtividade, porque o que vemos hoje, em toda parte, são operários cansados, privados do sono e da convivência familiar, impedidos de estudar ou alcançar algum lazer.

As 8 horas de sono são um fato para quase todos os humanos. Alguns privilegiados conseguem dormir 6 ou até mesmo 4 horas e, ainda assim, sentir-se inteiros no dia seguinte. Outros, são obrigados a dormir pouco, mesmo necessitando dormir mais, e engrossam as fileiras daqueles que moram distante e pegam cedo no batente. Levam para o trabalho o seu cansaço e sua desesperança, aumentando os índices de acidentes no trabalho e mortes no trânsito.

As 8 horas de lazer sempre foram pura balela. Nas tais “horas de lazer” devemos descontar pelo menos 2 horas para as refeições, higiene pessoal e, no mínimo, 2 horas de deslocamento diário. Aí já se foi a metade do tempo. A outra metade seria todo o tempo que nos restaria para nos deslocarmos até uma escola, estudar, conviver com a família e com amigos e ter algum lazer. E, claro, ao escolher uma dessas atividades as outras estariam automaticamente excluídas. Esse é o mundo em que somos obrigados a viver.

Com turnos de 6 horas um casal poderia, por exemplo, se organizar para que pelo menos um dos dois estivesse em casa com os filhos em um dos períodos do dia. Quem dera pudéssemos construir, assim, uma sociedade com mais valores e mais afeto. Em cidades maiores o comercio e a indústria poderia funcionar em regime de 3 ou 4 turnos, aumentando as vagas de emprego, o período de disponibilidade para as compras e distribuindo melhor o fluxo de pessoas em deslocamento nos horários de pico.

Diminuir o turno para 6 horas equivaleria a um aumento salarial de 25%, e mesmo se o valor dos salários fosse reduzido proporcionalmente em 25%, as vantagens decorrentes da mudança seriam muito maiores, considerando a qualidade de vida do trabalhador e das suas famílias. O aumento do rendimento no trabalho e na escola, e o aumento da possibilidade de mais pessoas retomarem seus projetos de crescimento pessoal, voltando a estudar.

Um abaixo assinado poderia tornar isso uma lei em nosso país, e duvido que alguém votasse contra, ou quisesse se abster, pelo menos nas grandes massas trabalhadoras, onde a mudança causaria o maior impacto positivo.

Turnos de 6 horas, hoje, me parecem uma possibilidade muito justa e atual. Mais do que isso, uma necessidade, um sonho para sonharmos juntos e fazermos acontecer. Um recado aos sindicatos e aos cidadãos antenados. Ajudem a propagar essa idéia.

Silvio Vinhal

11 agosto 2011

A Primeira Vez

Ilustração: Romero Britto


Inesquecível para mim. Foi um vôo curtinho, de Uberlândia para Goiânia, para socorrer um amigo que estava apertado com um trabalho para “ontem”. Ele pagou a passagem. Na época, se me lembro bem, eu estava quebrado. Fiquei imaginando que a necessidade dele era bem grande mesmo, pois uma passagem de Uberlândia para Goiânia naquela época devia custar bastante. De qualquer forma, foi um gesto carinhoso e de grande deferência para comigo. Nem sei se ele tem consciência de como foi importante aquela “passagem” que tratei de apreciar em todos os aspectos visíveis e invisíveis. Para aquele momento, aquele vôo foi simbólico com o princípio de uma “volta por cima”, um retorno aos palcos da vida, onde eu andava me sentindo um simples borrão.

O vôo durava cerca de meia hora. Praticamente 15 minutos subindo e 15 minutos descendo. Viagem curtinha. Nem preciso dizer que passei vergonha logo na saída, pois achei que o povo na sala de embarque era todo para o mesmo avião e me distrai. Quando me dei pela situação já estavam chamando meu nome no alto falante. Gente importante é assim... anunciada no vôo. (haush haush haush)

Pedi assento na janela, claro. Não ia, de jeito nenhum, perder a oportunidade de apreciar a vista, ver a terra do espaço pela primeira vez. Imaginei que tivesse algo de mágico nisso, e tinha mesmo. Era um dia lindo de sol, algo entre março e abril, penso. Céu muito azul e com algumas nuvens. O contraste do branco com o azul era maravilhoso. Senti-me num grande aquário (por causa da sensação de flutuação que as nuvens baixas e espaçadas propiciavam). Algo difícil de descrever, um espetáculo belo e quase silencioso. Numa hora dessas quem sequer se lembra do barulho do avião?

Olhando abaixo entendi Romero Britto*, é bonita demais essa terra brasilis, esses campos reticulados e coloridos, cultivados ou não, terra de todas as cores, rios, elevações, cidades. Impossível descrever as sensações pelas quais fui acometido.

O mundo acontece dentro e fora da gente. A emoção, talvez seja quando esse mundo interior ameaça sair pela boca, pelos olhos, pelos poros. Não há mal definitivo em nossas vidas que possa nos prender sempre ao fundo, ao chão. Aquele vôo simbolizou a virada. Senti-me arrebatado literalmente aos céus. Quando desci em Goiânia eu era alguém mais vivo, mais feliz. Justo eu que havia saído daquela cidade de cabeça baixa, por algumas peças que a vida havia me pregado. Nunca houve outro vôo tão significativo, ainda que eles tenham se tornado bem mais frequentes. Depois daquele dia eu ganhei novas asas.

Silvio Vinhal

*Romero Britto é considerado um ícone da cultura pop moderna, sendo um dos mais premiados artistas de nosso tempo. O artista pop mais jovem e bem-sucedido de sua geração, Britto tem criado obras-primas que invocam o espírito de esperança e transmitem uma sensação de aconchego. Suas obras são chamadas, por colecionadores e admiradores, de “arte da cura”. Sua arte contém cores vibrantes e composições ousadas, criando graciosos temas com elementos compostos do cubismo. Veja mais em:

http://www.romerobritto.com.br/portu/romero.asp


27 julho 2011

Faça / Não Faça!

Silvio Vinhal

Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você.

Não ignore, não menospreze, não despreze, não desmoralize, não trate mal, não roube, não atropele, não mate, não exclua, não estupre, não discrimine, não trate com preconceito, não julgue, não faça chorar, não esqueça, não falte com o compromisso, não engane, não traia, não iluda.

Faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem a você.

Faça carinho, faça amor, faça amar, faça feliz, faça rir, faça acreditar, faça ter fé, faça sentir-se melhor, motive, ajude a crescer, acolha, abrace, sorria, sorria novamente, com os olhos, ouça, caminhe ao lado, apóie, perdoe, quando errar, reveja sua postura, desculpe-se, permita-se voltar atrás.

O mundo anda sem graça, o mundo anda triste, o mundo anda meio rápido, meio vazio, meio besta, meio escroto. O mundo anda meio arremedo do mundo.

Pra não sucumbirmos ao baixo astral precisamos semear flores, amores, jogar luz nos cantos. Recuperar valores. Há algum tempo ouvia muito a frase: “Que mundo estamos criando para os nosso filhos”. Hoje eu acho que a frase que faz mais sentido é: “Que mundo nossos filhos estão criando para nós”.

Torço o nariz por aí com vizinhos que não se cumprimentam no elevador, e que sequer respondem ao cumprimento, quando desejo um bom dia. Também para gente que não tem consciência do espaço que ocupa, e sai por aí trombando e dando bolsadas e mochiladas na gente o tempo todo.

Sofremos de inconsciência de nós mesmos. Há dias que são apenas um número no calendário. Dias apagados, em que esquecemos de viver, em que sequer somos nós mesmos. Pior é quando esses dias “brancos” se tornam semanas, meses, anos.

Nos regozijamos e nos entristecemos e às vezes, quem está do nosso lado nem nos percebe. Será que com o tempo ficamos transparentes? Não falo de mim, especificamente, mas de nós, seres humanos, ou quase humanos.

Eu sou o otimista, aquele que vê o copo sempre meio cheio. No entanto, às vezes também sinto cansaço diante do mundo. Tanto por fazer. Tão pouca gente interessada...

Vam’bora mudar as coisas pra melhor ?

22 julho 2011

Odeio ser gordo!

Silvio Vinhal


Odeio ser gordo. Digo isso e sorriem-me os quibes fritos, as coxinhas, os quiches, as lasanhas, as pizzas, os pavês, os chocolates, as mousses, os sorvetes, os queijos... Ah! Os queijos! Ainda mais para mim, que sou mineirinho, não da gema, mas das beiradas, lá de Ituiutaba. Terra das pamonhas, dos doces e das deliciosas manteigas “de leite”.

Só pensar em queijo e sorriem para mim os pães de queijo. Justo para mim, que sei o que é um bom pão de queijo de avó, com aquele cafezinho inconfundível, que peço sempre a receita e nunca consigo fazer nem parecido. Amor de avó é um tempero sem igual. Quem tem, tem. Pra quem não tem mais, o que resta é uma doce melancolia repleta de sons, cheiros e memórias.

Eu ainda tenho uma avó. Miudinha, esperta, que adora TV, gosta de conversar, de morar sozinha, e de ficar acordada até tarde. Vó Lóla, miudinha, mas um furacão em forma de gente, capaz de ir de zero a 100 em 2 segundos. Adepta de sal – muito sal – e de pimenta – muita pimenta. Essa, do cafezinho, dos pães de queijo deliciosos, do feijão preto, da carne de porco, e que faz um arroz cujo sabor jamais encontrei em outro lugar. Penso que não existe um arroz mais gostoso que aquele.

A outra avó, infelizmente, só tenho no coração e na memória. Uma mulher grande, mezzo italiana, de cabelos incrivelmente brancos. Calada e terna. Carinhosamente discreta. Lá, sorriam-me sempre deliciosas macarronadas, ou a “pizza da vó Nenê”, que na verdade era uma torta de frango, de.li.ci.o.sa! Na casa dessa avó lembro que me sorriam deliciosos pavês de ameixa, ai meu Deus!!!

Minha mãe sempre tirou leite de pedra. Fazia qualquer comida ter cheiro e um sabor maravilhosos. Aprendeu direitinho a valorizar a vitamina contida em cada alimento, cada pequeno pedaço de carne, ainda que às vezes o dinheiro só desse pra comprar barrigada de porco pra aproveitar a banha e utilizar a pouca carne para dar sabor à comida. Depois, quando as vacas engordaram um pouquinho, ela ficou sofisticada e fazia sorrir para nós deliciosas galinhadas, frangos com macarrão e pratos árabes que não sei de onde ela tirava a receita, como aqueles deliciosos quibes assados ou Mafufos enrolados em folhas de couve ou repolho. Esses, lembro bem, sorriam-me muito!!!

Meu pai não deixava por menos. Herdou a boa mão da mãe e gostava de fazer pão de queijo de batata, rosquinhas enroladas com leite condensado – cujo nome mais tarde descobri ser “Rosca Húngara” e, aos domingos, um delicioso arroz com suã de porco.

Não podia ser diferente, herdei todo esse bom DNA para a cozinha, claro! Modéstia à parte, faço rangos bem gostosos, embora prefira seguir a intuição do que utilizar uma receita. Às vezes erro, mas prefiro ter alguma liberdade para criar.

Enfim... Odeio ser gordo. Porque preciso emagrecer, mesmo sabendo de tantas coisas deliciosas que me sorriem (hoje mais nas lembranças que na vida real). Hoje são as saladas que me sorriem, e eu as adoro. Abro mão de qualquer sabor pelo prazer de me sentir leve, íntegro, ágil. Procuro fazer tudo certinho e, mesmo assim, talvez o Karma de tanta coisa gostosa que já comi na vida, ainda me persiga.

20 julho 2011

A Amizade

Silvio Vinhal

A amizade, para mim, é como um amálgama que junta todas as outras coisas. Não acredito em relação entre seres vivos, humanos pelo menos, se não for por meio dela. Não sei se posso dizer que tenho muitos amigos, mas tenho amigos muito valiosos. Não importam em quantidade, mas na qualidade de seres humanos que possuem.

Eu talvez não seja para eles um amigo muito bom. Não gosto muito de telefone, sou desligado para datas de aniversário, esqueço nomes com facilidade, e acabo me dedicando tanto ao trabalho que, às vezes, me torno quase antissocial.

No entanto, não esqueço dos meus amigos. Às vezes digo que gostaria que no fim dos tempos, de alguma forma, fosse possível que as pessoas que amamos vissem, de uma forma mais concreta, o quanto as amamos.

Disponibilizo para os amigos uma imensa conta no banco da minha tolerância, do meu carinho, da minha atenção, do meu amor. Encaro até mesmo alguns vacilos, pisadas de bola ou pequenas “traições”. Acredito nas voltas, sou capaz de perdoar verdadeiramente. Procuro sempre ter tempo, até mesmo quando ter tempo significa “tolerar” alguns abusos.

Sinto uma saudade quase visceral dos amigos que desapareceram no tempo. As vezes me pego pensando se me esqueceram, ou onde foi que se perderam, já que hoje todo mundo está ao alcance de alguns cliques. A internet está aí e é capaz de suprir muito da saudade, da distância, do tempo passado longe. Então, me pego pensando se aqueles que sumiram simplesmente me esqueceram, morreram ou se vivem num mundo onde a internet ainda não faz muito sentido.

Saudade visceral que aumenta, quanto mais era próxima a amizade. Cadê esse povo, meu Deus? Às vezes fico com a impressão de que eram atores em um ato da minha vida, e que sumiram porque tiveram que se revestir de outros personagens nos atos subsequentes. Uma idéia maluca que já imaginei até transformar em peça de teatro.

Minha amizade por meus velhos e novos amigos hoje está, sobretudo, na rede. Não conhece fronteiras ou línguas. Aos poucos vou reunindo, descobrindo, reagrupando amigos de épocas e lugares diferentes, e todos são essenciais para mim. Cada um com sua própria importância na forma como me ajudaram a ver o mundo, a amar, a sentir-me sempre e sempre, amparado e amado.

Não posso citar nomes sem correr o risco de esquecer alguém, no entanto, eles (os nomes) fervilham na minha cabeça enquanto escrevo, junto com os rostos e as cenas de algumas lembranças que ficaram preservadas em minha memória.

Peço a Deus que preserve cada um deles, que nos propicie novos encontros pela vida, ainda que seja para falar dos filhos e netos, para falar de dores e perdas, de medos e mazelas. Sobretudo, que seja para viver e para falar de quanto a vida é bela, porque nos sentimos seguros nos braços (ou no alcance – ainda que via internet) do carinho dos companheiros que escolhemos para compartilhar a vida.


17 julho 2011

LOUCO DE MEIA IDADE


A proximidade dos 50 anos, hoje, está tão visível para mim quanto aquela imagem da nave alienígena que paira sobre New York no filme Independence Day, de 1996, dirigido por Roland Emmerich. Estou no meio dos 47, ainda resta um tempinho para emplacar meio século, mas já me considero no período de preparação para essa data que considero um marco importante.

Quando olho para o passado tenho a impressão de que vivi várias vidas. Cada período, pontuado por uma cidade diferente, pessoas diferentes, que nem sempre transitaram comigo de um período para o outro, infelizmente.

Vivi 20 anos em Ituiutaba, 10 anos em Goiânia, 10 anos em Uberlândia, 3 anos em Belo Horizonte e 4 e meio em Brasília, onde resido atualmente e, aparentemente, ficarei por um período mais longo, dadas as condições que me trouxeram aqui.

Sempre fui daqueles para os quais os últimos dias do ano são de balanço sobre tudo que aconteceu até então, até mesmo porque sou capricorniano, que aniversaria em 27 de dezembro. Esse período tumultuado entre o Natal e o Ano Novo, onde quase sempre me “esqueceram” os parentes, amigos e colegas de escola e trabalho. Natural, cada um cuidando da sua vida e envolvido na sua própria e cruciante rotina de agendar festas, férias e compra/troca de presentes. Aos poucos me acostumei e “até” parei de reclamar internamente.

Mas, voltando ao assunto que me levou a escrever esse texto: Aproximar-se dos 50 anos, ou da “meia idade” principiou em mim um grande e melancólico processo de reflexão sobre toda a minha vida até então. Acordo e adormeço com o desejo de resgatar vários “eus” que por uma coisa ou outra parecem ter ficado perdidos em alguma dessas “vidas” que tive, e que acabaram sufocados por “forças ocultas”, ou por fraqueza minha, ou por necessidade, ou por desatenção. Minha culpa, minha única culpa, claro!

O fato é que os cinquentinha chegam aí trazendo como novidade uma vontade imensa de me reinventar, de chutar o balde em muitas coisas, de destacar aquilo que, para mim, sempre foi mais importante e que, por um motivo ou outro fui obrigado (?) a deixar em segundo plano, a deixar para depois.

Música, artes plásticas, literatura, poesia, gente... Não necessariamente nessa ordem. E, principal e essencialmente, resgatar o que há de melhor em mim, e aprender a extirpar, aos poucos, aquilo que a vida me acrescentou – sem que eu tivesse tido tempo para fazer juízo e saber se queria ou não.

Enfim, está aberto o tempo para acrescentar à minha história tudo aquilo que eu escolher, e de extirpar tudo que se tornou obsoleto, indesejável, pesado excesso que não quero e nem vale a pena mais carregar.

Sigo assim, como um mutante louco lobo de meia idade. Durma-se com um barulho desses!


by Silvio Vinhal



15 julho 2011

Duas regrinhas para viver mais

Silvio Vinhal

O trânsito está cada dia pior.

De quem é a culpa? Dos maus motoristas ou dos planejadores urbanos corrompidos pelos especuladores imobiliários?

Economia estável, poder aquisitivo em alta, juros baixos (?) e financiamentos a perder de vista são os responsáveis pelo “boom” de automóveis em nossas cidades. O planejamento urbano, no entanto, não acompanha as mudanças tão rápido assim. Nossas cidades, Brasília incluída, repetem um planejamento medíocre e inadequado que moldou a maioria das cidades pelo mundo afora, com ruas e calçadas estreitas. Áreas superpovoadas proliferam sem o contraponto de vias calculadas para receber o impacto do grande fluxo demandado por edifícios residenciais, bem como escolas, estádios, edifícios públicos, hospitais ou igrejas.

Brasília, em particular, cresce sem ter aprendido nada com o mestre Lúcio Costa. Nem mesmo o plano piloto, com suas amplas avenidas de 12 pistas resiste à proliferação de motoristas barbeiros, com seus carros zero quilômetro, reluzentes ou empoeirados, ou suas carroças caolhas e capengantes.

A maioria dos motoristas pensa que basta comprar um possante e sair por aí ganhando chão. Eu corro léguas daqueles que são impacientes e mudam de pista o tempo todo. Estatisticamente está comprovado que são eles os que mais contribuem para que o trânsito empaque. Justificável, pois para mudar de pista eles param, ainda que por alguns instantes, duas pistas. Ao mudar de pista constantemente, eles bagunçam o tráfego, e aumentam a probabilidade, para si, ou para os outros, de provocar uma colisão.

Também fujo de motoristas que não sabem calcular a distância que devem manter em relação ao carro da frente, de acordo com a velocidade que trafegam. Regra básica das instruções para tirar a habilitação que, aparentemente, poucos se lembram, ou acham que só vale para as rodovias. Dirigir colado no carro da frente é assinar um atestado de burrice, porque o motorista “abre mão” de qualquer possibilidade de se defender, ou se safar, caso o motorista da frente freie bruscamente, por necessidade ou por qualquer outro problema que haja com ele ou com o carro.

Duas regrinhas básicas que podem melhorar muito a convivência, nada pacífica, a que somos obrigados a nos submeter diariamente para trabalhar, nos divertir, levar os filhos à escola ou voltar para casa. Duas regrinhas que podem salvar vidas. No trânsito, não devemos apenas pensar em chegar mais rápido ao nosso destino. Nossa postura pode e deve ser defensiva e didática. Os bons motoristas são capazes de ordenar o trânsito, torna-lo melhor. De que lado você está?

27 junho 2011

Ética Etílica - Ou como Rachar a Conta do Boteco

Quando saímos com amigos o que se espera é diversão, farra, enfim, o aproveitamento integral do momento de descontração. Faz parte da amizade evitar que nossas ações sejam o estopim de discussões ou aborrecimentos que causem algum desconforto ou constrangimento pra quem quer que seja. Rachar a conta no final da noite é sempre um momento tenso, pois cada pessoa se comporta de uma maneira diferente, e alguns comportamentos podem ser interpretados como esperteza ou até mesmo superproteção.

Já ouvi histórias de pessoas que ficavam sempre na mesa até o final, e faziam questão de fazer as contas, conferir tudo, fazer os acertos com quem saísse mais cedo e fechar o pagamento final. A esperteza era que faziam as contas sempre excluindo a sua parte, como se cobrassem uma “quota” pelos serviços prestados. Na eventualidade de sobrar algum troco, ainda podiam levar algum para casa.

Na escala oposta, talvez, esteja aquele que, superprotetor, paga a conta integralmente. Geralmente isso é comum em encontros de caráter mais familiar e, mais raramente, em encontros de trabalho, onde quem paga a rodada é o chefe. Esse comportamento pode gerar em alguns um sentimento de humilhação ou de dependência, embora às vezes seja bom, quando estamos do lado que é beneficiado. A verdade é que está em alta a divisão da conta em parcelas iguais para todos da mesa e, geralmente, é essa a forma mais justa, rápida e usual.

Não é justa quando o consumo é muito desigual, por exemplo, quando um lado da mesa toma Whisky e o outro refrigerante. Ou quando um lado pede pratos caros e individuais, não compartilhados pela mesa, e depois espera que a conta seja dividida em partes iguais.

Os bons restaurantes resolvem facilmente essa saia justa com a utilização de comandas individuais – a pedido do cliente. Essa é a forma mais organizada, ética e justa de pagar apenas aquilo que você consumiu. A comanda individual é “politicamente correta” porque, sem discriminar quem não pode consumir mais, tornando o encontro mais democrático, facilita a vida daqueles que precisam sair mais cedo, evitando-se um acerto parcial, e a realização de contas intermináveis e desagradáveis, ainda mais considerando que algumas pessoas já não estarão muito sóbrias.

Sempre que possível, como uma medida coletiva de gentileza, é bom excluir da divisão as pessoas idosas, as crianças e adolescentes, um eventual homenageado, fazendo com que a conta seja dividida entre aqueles que têm rendimento e estão em condição de pagá-la.

Se nada disso evitar que a noite acabe em baixaria, o melhor é que cada um separe da conta o seu próprio consumo, pague individualmente e aprenda, da próxima vez, a pedir a comanda individual, pois os comportamentos em grupo costumam se repetir. Que se preserve a amizade, nesses tempos em que a palavra – ÉTICA - parece ter sido esquecida por muitos.

22 junho 2011

Meio frio, meio quente

Costumam dizer que a internet é um meio frio. Não concordo. Em meus pouco mais de 11 anos de internet, posso dizer que ela não tem nada de “frio”. Graças à rede pude fazer novos amigos em lugares distantes, alguns onde eu jamais havia ido, e outros onde até hoje ainda não pude ir. Porém, em muitos momentos, esses amigos me ajudaram a segurar grandes barras. Torceram por mim em momentos difíceis e comemoraram comigo muitas conquistas. Também pude reviver amizades que haviam se perdido no tempo, mas cuja brasa ainda estava muito acesa, muito viva.

Graças à internet pude manter contato com meus ex-alunos, mesmo após ter me mudado de Uberlândia, onde lecionei. Acompanhei o crescimento deles, sua formatura, e hoje acompanho sua vida profissional. Cheguei a me tornar uma espécie de confidente ou conselheiro de alguns. Cada vez que vejo uma foto dessa galerinha no Orkut, no facebook, ou em outro lugar da rede, me emociono. Torço demais pela felicidade e pela realização de cada um deles! Tornaram-se amigos, e o fato de termos compartilhado um momento de troca de conhecimentos me fez muito bem. Ensinei um pouco do que eu sabia, e aprendi muito com cada um deles, daquilo que se pode aprender com o desabrochar das pessoas.

É um privilégio ver um jovem desabrochar. Bonito demais! E nesse quesito, todos os meus alunos sempre foram maravilhosamente lindos e especiais.

Com a internet, aos poucos, o Brasil se tornou para mim um lugar muito diferente. Hoje posso dizer que tenho amigos em lugares tão diversos, que o mapa do meu país se transformou num lugar pulsante, cheio de significados. Algumas cidades que eu nem sabia existir, se tornaram uma referência no meu imaginário emocional. Ter um amigo, em qualquer lugar, significa que um dia você talvez vá lá para conhecê-lo pessoalmente ou, no mínimo, vai querer saber um pouco mais sobre o lugar, porque existe alguém especial para você que reside ali. As barreiras da nação ou da língua sequer foram limitadoras, pois a internet possibilitou manter contato, também, com parentes e amigos que se mudaram para outros países.

Enfim, considero a internet um meio quente, necessário, ferramenta essencial desse mundo cada dia menor. Considero vital estar conectado, e não abro mão de curtir e compartilhar, mesmo de longe, um pouco da história, das emoções e experiências de todas as pessoas que passaram (e ficaram) em minha vida.

18 junho 2011

Simplesmente seja você mesmo!

Simplesmente seja você mesmo. Não deveria ser difícil, mas é. Difícil, mas não impossível. E absolutamente necessário. Sua cor, sua matiz, seu jeito de ser, de pensar, seu jeito de existir no mundo são únicos e imprescindíveis. Nunca houve alguém igual a você e nunca haverá outro igual. Não foi à toa que Deus colocou no homem um umbigo. O nosso umbigo é o centro do universo. É essa a posição que cada ser ocupa no universo, o centro. Donde se pode supor que cada mundo é “concebido” segundo a nossa imagem e semelhança.

Ser você mesmo implica em aceitar suas diferenças. Implica em perceber suas imperfeições, respeitá-las, tomá-las como medida para encarar o mundo. Aprender a rir das suas mazelas, ser complacente e bondoso com aquilo que é falho em você. Aceitar-se como uma rica e bem sucedida experiência vital de superação, de conquista do universo e da vida em sua plenitude. Aceitando a si, como ser imperfeito e ainda assim belo e essencial, fica mais fácil reconhecer o outro, apesar da imperfeição contida no outro, também.

Sim, todos nós somos seres imperfeitos e ainda assim essenciais, belos, únicos, raros. Sim, todos nós merecemos o melhor que a vida tenha a nos oferecer. Sim, todos nós merecemos compartilhar com nossos semelhantes um pouco de afeto, carinho, alegria e ricas experiências de vida.

Sim, todos nós somos seres mutantes, portadores do certo e do errado, indistintamente confusos, prolixos às vezes, seguimos sem saber quando o certo é certo, quando o errado é errado, quando o errado é certo e quando o certo é errado.

Seja leve consigo mesmo. Ria da sua “triste figura”. Isso, com certeza, vai aliviar um peso enorme da sua alma e, também, da vida das pessoas que convivem com você. Ria de você mesmo na frente do espelho. Ria do seu pé chato, do seu nariz de batata, da sua forma de pêra, ou de espanador da lua. Ria de seus dentes tortos de seus olhos meio vesgos, da sua sobrancelha de taturana, ou da falta delas. Permita-se rir de si mesmo. Admita que um dia tudo isso vai virar inevitável pó. E cuide daquilo que realmente vale a pena. O ser que mora em você! A sua alma, essencial. Tudo o mais é apenas um risco, um corisco, um relâmpago, que no segundo seguinte se apagará.