07 janeiro 2023

 Incompatibilidade


O espelho à frente dos meus olhos
não reflete mais
o menino que ainda sou.

Os fios brancos dos meus cabelos,
da minha barba,
registram uma dolorosa sinfonia
de caminhos fluídos.

Meu estômago dói
ao digerir esse tempo
que me parece tão curto
e a vida insiste em mostrar
tão intenso.

Minha alma não se enxerga
nesse corpo
e os olhos traem o menino
(que se esconde inconformado)
atrás dessa armadura meio gasta.

Hoje sei que existe vida eterna,
porque os olhos, mesmo num corpo gasto,
revelam que a alma não envelheceu.

Silvio Vinhal em O Tempo e o Jardim, Brasília, 2013, ARTcontato


16 abril 2021

O ROSTO DO TEMPO

Esse rosto que eu chamo tempo, cujos olhos curiosos nos perseguem. E sua face oculta, guardada contra todo mal, moléstia ou crime que só a nós atingem (castigam)

Esse rosto que esconde promessas que nunca se cumprirão e que não obstante nos faz crer sempre e sempre e sempre porque tem o dom

e nos inunda com sua serena utopia. E não é utopia tudo que queremos? Tempo, tempo, tempo, seu relógio ilógico sempre a nos cobrar seu preço.

Pagamos com moeda viva: Carne, sangue, suor e lágrimas. As alegrias não, essas, guardamos pra nós. Silvio Vinhal no livro Amaro Amor, 2019 - ARTcontato Ilustração: Richard Kenworthy




27 abril 2020

BUSCA
















Há em mim uma poesia contida,
como o badalar de um sino que não badala.
Como o som de um violino que nos recorda a alma
(mas que não ouvimos).
Lá fora cai a chuva de todos os ciclos,
num ritmo cálido e triste,
mas o coração está feliz e ouve o ritmo
como uma canção de alegria que nos conforta a alma.

Há sorrisos na memória.
Rostos, mãos e gestos. Silhuetas amadas
e esquecidas.
Há um burburinho dizendo
que tudo se confunde numa coisa só.
O amor por cada pessoa é o amor por todas as pessoas.
O corpo é apenas um braço, a mão,
Uma fagulha que de nós se estende rumo a outro ser.
Não importa sexo e cor,
o amor acontece de um ser a outro,
e outro, e outro,
Porém, ser ser promíscuo,
ama um a um e ao mesmo tempo ama a todos,
Porque não há limites para o amor.

O amor não conhece a gravidade, o tempo, o espaço,
Não se acomoda em recipientes vazios.
Pelo contrário, cresce sempre,
como o ar quente que se expande, mais e mais,
Como a água que está sempre fugindo.
(olhando de perto vemos que não é uma fuga)
É um destino, um caminho,
que se contorce nas pedras do rio,
Abre passagem, supera desafios e vai, vai sempre,
em busca de um destino,
Sombrio, desconhecido,
Mas cheio de sonhos que projetamos,
Silhuetas que amamos
e que retornam na sombra que as folhas
desenham no chão.
Há um grito de dor, desejo irrealizado,
frustração!
Mas há um grito mais forte, de júbilo:
O tempo é senhor da razão...
e valerá a pena qualquer amor,
Qualquer amor valerá!

Poema do Livro O Tempo e o Jardim, Silvio Vinhal, Artcontato Editora, 2013
Foto: Cláudio Moreira

22 abril 2020

ARCO DO TEMPO















Abriu-se uma fresta no tempo desde que te conheci,
E por ela penetrou uma luz furta-cor, mágica
Quebrando as resistências do espaço conhecido.
Mais cedo fosse, juraria eu ter ouvido trombetas do apocalipse
Céus se abrindo numa fantasmagoria de luz e movimento.

Tudo está quieto agora,
Nem uma folha se move e essa atmosfera surreal
Prenuncia teus passos em minha direção.
Tua voz é música em meus ouvidos,
Minha alma canta e se deixa balançar
Como uma criança.
E adormece como uma criança no teu colo.

Te conheço de agorinha há pouco,
Nem te vi ainda,
E algo me diz que sempre estivemos juntos
Na pradaria de tempos eternos,
Lá onde nasce o vento pra vir soprar à terra
Aventuras e amores de um dia.
No entanto possuímos todos os dias.

Recosto a cabeça em teu peito e ouço por séculos teu coração.
Como se alguns segundos apenas me quedasse ali.
Todos os relógios quebrados, inúteis,
Incapazes de registrar o tempo para nós.

Não importam milhas, quilômetros,
Entre a minha alma e a tua não passa uma linha.
Meu dedo descreve um arco em tua fronte
E um beijo nos devolve a unidade.

Poema Arco do Tempo, do libro AmaroAmor, Silvio Vinhal, Artcontato Editora, Brasília 2019           
Foto: Cláudio Moreira

17 abril 2020

INDIGNA CASA


Queria poder juntar os cacos do corpo frágil e humano
que somos todos nós.
Queria poder alinhavar tecidos partidos, frágeis órgãos,
frágeis corpos 
de pais, irmãos, avós,
que vão se dissolvendo enquanto a vida vai passando indiferente.

Queria colar os cacos, fundir partículas,
construir um corpo perfeito,
um super corpo capaz de resistir à vida,
de resistir à morte
que teima em se instalar em nós a cada respirar,
como uma bomba a nos dizer
que pode ser agora ou amanhã,
Na próxima curva, na próxima queda,
Em meio ao próximo riso ou da maior tristeza.

E ela vai nos roubando de nós, amaciando as resistências
desse frágil corpo que somos.
Mina nossos ossos, faz falhar o coração,
murcha a flor da nossa pele,
tira a cor dos cabelos, torna opaca a nossa visão.
Frágil corpo, para almas tão sedentas de vida...

E o corpo (mesmo que ainda são) vai se partindo,
se rasgando, se dilacerando,
Ao ver cair, sem piedade,
Um a um,
Os corpos de nossos pais, irmãos, avós,
Amigos, filhos, amantes...

Pobre corpo humano!
Casa indigna dessa alma sedenta que Deus nos deu.
Corpo dilacerado na dor de não poder juntar, alinhavar,
fundir, reviver, enfim,
Os corpos que de tão frágeis não comportam
a alma daqueles que amamos.

Por Silvio Vinhal em O Tempo e o Jardim, ArtContato editora, Brasília, 2013

31 dezembro 2019

DIZEM POR AÍ...

Dizem por aí que é feio ter preconceito, porém, confesso que sou cheio de preconceitos contra pessoas fúteis, intolerantes, que se acham superiores e arrotam arrogância, violência, falta de cultura, de compaixão e de empatia.
Dizem por aí que é melhor apoiar políticos menos corruptos, ainda que desprovidos de inteligência e senso de dever. No entanto, eu penso que políticos devem servir ao povo com humildade e respeito. Que a corrupção é intolerável, seja em quem quer que seja.
Políticos são servidores, empregados do povo. Devem honrar seu cargo. É desejável que sejam inteligentes, no entanto, se forem honestos e tiverem boa índole e caráter, é aceitável.
Dizem por aí que juízes são superiores e inatingíveis em seus atos. No entanto, eu penso que um juiz parcial, tendencioso e corrupto é uma vergonha para a sociedade e não serve para o cargo.
Dizem por aí que o povo deve obedecer à hierarquia social e às leis do país. No entanto, eu penso que o povo é soberano.
Quando a maior parte da população passa fome e não é respeitada em suas necessidades, num país que privilegia os ricos e sobrecarrega cada vez mais os humildes, esse povo deve resistir e questionar as leis e as estruturas hierárquicas que o escravizam e tomam como massa de manobra.
Dizem por aí que o caucasiano é bonito e as outras etnias são arremedo dessa “raça” superior. Eu, no entanto, penso que todas as etnias são lindas e carregam preciosidades que a humanidade sequer começou a desvendar.
Dizem por aí que é feio um homem beijar outro homem, ou uma mulher beijar outra mulher. Eu, porém, acho que feio é fazer apologia às armas e ao crime. Desprezar ou criticar o próximo por suas escolhas afetivas.
Quem ama de verdade ama o ser que mora no outro. O sexo é apenas uma porta. Se não serve para acessar a alma do outro, é apenas impotência e vício.
Dizem por aí que uma religião é melhor que outra. Eu, no entanto, penso que as religiões são apenas estruturas de organização social. São importantes quando formam o pensamento de respeito ao próximo e congregam. São verdades incompletas, que só alcançam plenitude se os seus seguidores observam com retidão o princípio de amar ao próximo como a si mesmos.
Dizem por aí que vestir branco garante um ano de paz, porém, eu penso que para ter paz é preciso se colocar no lugar do outro, e não fazer o mal a ninguém. Sobretudo, não fazer ao outro aquilo que não gostaríamos que alguém fizesse a nós.
Dizem por aí que um ano novo traz renovação e esperanças. Eu, no entanto, penso que um ano novo é apenas um artifício para que os homens “zerem” o marcador e possam reiniciar uma nova contagem de 365 dias.
Quem deixa tudo para amanhã, está apenas perdendo o seu tempo de agradecer e ser feliz – aprendendo a amar aquilo que tem.
Vivemos tempos difíceis. Cada vez mais é preciso buscar valores interiores e permanentes, polir o nosso caráter.
Que possamos dar ao próximo o amor e a paz, a compaixão e a alegria que desejamos para nós! Feliz vida nova!
Silvio Vinhal – Brasília - 31/12/2019 13:16

06 junho 2019

Amaro Amor






O Lançamento do meu segundo livro "Amaro Amor" será no dia 08/06/2019, sábado, com sessão de autógrafos das 17 às 18 horas, durante a 35ª Feira do Livro de Brasília, no Complexo Cultural da República, Estande nº 88, Espaço do Sindicato dos Escritores do DF, que fica em frente à Arena. Espero você! 
Observação: Para aqueles que não estão em Brasília, não puderem vir e quiserem adquirir o livro, contatem-me por mensagem em:

livro.amaroamor@gmail.com  ou  silviovinhal@gmail.com

08 março 2014

30 março 2013

Páscoa = Passagem

foto: Avi Abrams

Um dia eu virei as costas para a dor e para a cruz. Entendi que a “civilização da culpa” era apenas uma forma de coerção mental, de submissão doutrinária. Não nego que tenha tido sua importância, a princípio, na minha formação. Porém, libertei-me de seus jugos gradualmente. Não deixei de ser cristão, só deixei de ter religião. Adotei um Cristo vitorioso, ressuscitado, imerso em luz e energia boas, em alegria e em perdão.
Sempre entendi e usei a Páscoa em seu sentido mais literal de passagem, de purificação (mais mental e espiritual que física). Sempre saí renovado, de fato. Hoje, conversando ao telefone com um amigo ele me disse algo do tipo: “me olhei no espelho e me perdoei em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Talvez esse seja o verdadeiro ritual que devemos fazer na Páscoa. Nos perdoar, íntima e sinceramente. Entender que não necessitamos dar conta de tudo que se nos apresenta. Ter consciência da nossa ínfima importância diante do universo.
Pra quê carregar tanto ódio, tanta culpa, tanto fardo pesado, tanta inconformidade com nós mesmos? Inconformidade que se reflete nos outros, e se torna ódio e culpa que o tempo inteiro geramos também no outro?
Uma das cerimônias da religião católica que mais gosto é a da quarta-feira de cinzas. Porque “a coisa mais certa de todas as coisas” é que “somos pó e ao pó voltaremos”. Mentalmente, sempre que envaideço-me um pouco por algum elogio (principalmente por autoelogios) faço a imagem mental de estar nu, com a cabeça raspada, deitado sobre a terra numa atitude de entrega. Sou pó, e ao pó eu volto sempre para me lembrar que nada sou.
E ao me permitir ser “nada” me desobrigo dos meus fardos, dos meus pesos, dos meus ódios, das minhas culpas e dos meus medos. Faço assim minha passagem para ser um ser mais leve. O mais próximo, talvez, que eu posso estar desse Jesus ressuscitado que eu ainda trago em mim.
Enquanto nós nos entupimos de chocolate e bacalhau, sem saber muito bem o motivo, uma parte de mim quer urgentemente desejar a todos que eu amo, e a todos que estiverem atentos, que simplesmente passem, transponham, se transfigurem e ressuscitem de si mesmos.
O inimigo – que às vezes somos nós mesmos, assim como a dor, a morte e a tristeza só permanecem em nós enquanto permitimos.
Feliz Páscoa! Feliz Passagem!

Por Silvio Vinhal


26 janeiro 2013

FELICIDADE



Felicidade é gostar daquilo que se tem. É algo presente, não futuro.
É olhar pra você mesmo, pra sua família, seu mundo e dizer: sou feliz por estar aqui, ser a pessoa que sou.
Quando colocamos a felicidade no futuro, de certa forma - perdemos a rédea desse sentimento.
Podemos desejar coisas, claro. Imaginar que determinada coisa pode nos fazer "mais felizes", mas é preciso ser feliz agora, porque o agora é a única coisa concreta que temos.

19 dezembro 2012

A VERDADE SOBRE O FIM DO MUNDO



Pois é, pessoal, o mundo acaba na sexta-feira, dia 21 de dezembro de 2012, e eu queria dizer que foi bom enquanto durou. Quero agradecer a todos que colaboraram para que eu fosse tão feliz, em toda a minha vida. Porque se tem uma coisa que tenho certeza é de que sou um cara feliz, e sempre fui.  “Sou alegre, sou triste, mas sempre fui feliz”, já registrei em letra de música.

Nesses tempos de fim de mundo o que mais me chama a atenção é a perpetuação da nossa rotina, a descrença com que todos nós encaramos a “possibilidade do fim”.

Não acredito que o mundo vá realmente acabar, mas... e se fosse verdade? Será que em ninguém pintou um real sentimento de que – dessa vez – poderia ser verdade? E aí? Ninguém fez nada? Ninguém priorizou um encontro com a(as) pessoa(as) amadas? Ninguém resolveu cometer uma loucura? Realizar um prazer para o qual antes não se tinha coragem?

Sim, continuamos a ir para o trabalho, ainda que o achemos enfadonho, continuamos a manter os nossos relacionamentos, ainda que não estejam tão bem assim e não sejam como imaginamos, continuamos a perder o nosso tempo nos deslocamentos de trânsito cada dia mais caóticos, impossíveis e cruéis.

Conclusão: Não estamos preparados para o fim do mundo, por isso ele não pode ainda acabar. A grande verdade que transparece é que - não estamos preparados para viver.

Continuamos desprezando e mantendo em segundo, terceiro ou quarto plano aquilo que é essencial para o ser humano. O que fazemos, diariamente é desprezar a nós mesmos, vilipendiar os nossos desejos e o nosso próximo.
E a grande verdade que nunca se calou é que o mundo, para qualquer um de nós pode se acabar – sem aviso nenhum – no próximo segundo.

A vida é frágil! 

Não sabemos como conduzi-la, não sabemos como cuidá-la, não sabemos como aproveitá-la melhor – e pelo amor de Deus, não entendam que aproveitar a vida seja tornar-se um aproveitador do esforço e do trabalho alheio. Sejamos seres humanos autossustentáveis.

Vivemos para a felicidade. Porém, há que se entender que felicidade é gostar do que se tem, gostar do momento presente. Não há felicidade possível no futuro, porque o futuro não existe. O futuro, e a grande verdade diária que se nos impõe é que o mundo, para qualquer um de nós, pode acabar no momento seguinte. Hoje.

31 maio 2012

PIZZA



Que tal uma PIZZA ?

Música minha para o poema "O que se perde" - nova parceria com o poeta Fábio Rocha. Conheça mais em:

http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/o-que-se-perde/

28 março 2012

Luiz Gonzaga - Centenário



Nesse vídeo, interpreto a canção "Assum Preto" em homenagem ao centenário do nosso saudoso Luiz Gozaga, o rei do baião.  Composição de Humberto Teixeira.

* essa postagem, bem como o vídeo não têm fins comerciais.

17 março 2012

Brasília




"Gosto de Brasília, mas é uma cidade que me causa gastrite. A todo momento vemos um retrato do Brasil escancarado à nossa frente, com tudo que há de bom e de ruim convivendo lado a lado.

As mazelas da cidade e o descaso com a população de uma forma geral (faltam calçadas, sombra para caminhamento, um bom serviço de transporte e, principalmente, interesse em resolver os problemas de saúde, transporte, educação, moradia). 

Tão perto do poder, e ao mesmo tempo tão desprezada. Brasília é um retrato fiel do Brasil e nos lembra a todo momento o quanto estamos longe de nos tornarmos uma civilização melhor e mais justa - embora sua história lembre-nos, também, que é possível." Silvio Vinhal

Empenho e Coragem




"Quando muito jovens, muitas vezes não temos rumo, ou recursos.
Quando muito velhos, geralmente falta energia, embora abunde experiência.
Então, quando estamos no meio do caminho é hora de nos empenharmos ao máximo para realizar e tocar adiante todos os projetos que foram ficando ao longo da vida.
Aí, o que sobra, muitas vezes é ansiedade, mas o que não pode faltar é empenho e coragem."
Silvio Vinhal

Diversidade


"Quem não entende a diversidade do mundo, não entende os planos de Deus!
Nada há no universo que seja uma cópia exata de outra coisa. Tudo é único e especial.
Quem despreza aquilo que não entende é insensível para apreciar o dom mais precioso que existe em si e nos outros seres, a vida!"  Silvio Vinhal

12 janeiro 2012

Loucura



Penso que todos somos loucos. O que acontece é que escolhemos conviver com aqueles loucos que se parecem mais conosco. Daí, estranhamos a “loucura” do outro, sem perceber ou aceitar a nossa própria. Não há o que fazer, embora seja irônico, esse foi o preço cobrado pela evolução da espécie.

fonte imagem:
http://bezerravideoseaudios.blogspot.com/2011/01/n67-loucura-vida-somente-vida-producao_08.html

OXIGÊNIO


08 novembro 2011

DESCOMPASSO (Geografia) - Divulgação


7 bilhões de habitantes, redes de comunicação hiper-conectadas em tempo real e integral, e ainda nos sentimos sós.

Nem a "iminência do apocalipse anunciado serve de alento pra essa rotina amarga que se perpetua..."

Mais do que nunca é tempo de construirmos pontes reais com o outro. Pontes que começam com um simples olho no olho na hora de dizer e responder a um "bom dia".

Se não dermos conta das coisas simples, jamais conseguiremos solucionar as coisas mais complexas.
Música para incomodar e fazer refletir.

28 outubro 2011

Será ?




Diante da desesperança do mundo, da minha indignação com as mazelas que vejo em minha cidade, em meu país. Diante de tanta roubalheira, tanta falta de educação, de tanta pobreza (tanto material quanto de espírito) eu às vezes me pergunto:

Até onde vai minha parcela de culpa? O que faço para mudar o mundo e deixá-lo um pouco melhor?

Será que sou suficientemente paciente, benevolente, gentil, generoso, didático, amigo, cortês, honesto? Será que sei perceber meus egoísmos, minha intolerância, minha própria imutabilidade? Será que devolvo ao mundo um pouco de tudo aquilo de bom que já recebi?

Silvio Vinhal em Brasília 28/10/2011 09:57

21 outubro 2011

Deixar o mundo melhor depois que eu passar

Deixar o mundo melhor, depois que eu passar. Acho que muito cedo na minha vida eu cheguei a essa máxima. Nunca almejei ser só mais um na multidão, passar despercebido, curtir a vida ao máximo, sem compromisso com os outros. Nunca pensei estar no mundo para ser servido. Minha condição social, inferior, redimida gradualmente graças ao trabalho e principalmente ao estudo, colocou em cada prateleira os valores de respeito ao meu próximo, e uma consciência de justiça social que passou a ser o meu referencial para me mover no mundo. Acho que tem dado certo. Levei a sério aquela história de escrever o livro, plantar uma árvore... fiz até um pouco mais que isso.

O livro ainda não publiquei, é verdade. As árvores que plantei, hoje estão por aí entregues à própria sorte. Algumas sobreviveram, tenho certeza, e alguma contribuição devem estar dando à paisagem, e até para diminuir o efeito estuda (assim espero). Mas é pouco, quero fazer muito, muito mais. Hoje quero plantar ipês, primaveras, flamboyants, e mais uma multidão de árvores frutíferas e florais. Gosto de ver árvores carregadas de flores, ou de frutas, assim como gosto de ver arvores “caducas”, sem folhas no período de inverno, exibindo seus galhos bifurcados contra o céu. Talvez até pelo contraste, e por saber que ali, apesar de parecer o contrário, há muita vida e resistência, seja contra o frio ou contra a seca.

Fico triste quando vejo pessoas atirando coisas na rua, quando saem da sala de cinema sem carregar o seu próprio lixo, quando passam pelas pessoas que cuidam da limpeza e os tratam com desprezo, como se não existissem. São pagos pra fazer o serviço sujo, com certeza, mas são pessoas que merecem o nosso maior respeito e consideração, e também, alguma ajuda. O que custa cuidar do meu próprio lixo, contribuir um pouquinho e tornar a vida de todo mundo, muito melhor ? Essa lição, lembro-me bem o dia em que aprendi. Eu vinha do interior de Minas e já era universitário em Goiânia. Estava na rua com um colega, e num dado momento acho que ele chupou uma bala e guardou o papel no bolso, para não jogar na rua. Na hora eu achei aquilo estranho, mas entendi que era EDUCAÇÃO. Aprendi a lição para nunca mais esquecer.

Outro dia, conversando com uma amiga jornalista, culta, ela se espantou quando eu mencionei que achava um absurdo as pessoas jogarem papel higiênico diretamente no vaso sanitário. Será que essas pessoas nunca pararam para pensar que aquilo vai virar um grande problema lá na frente, entupindo canos de esgoto e poluindo córregos e rios? E pensar que aqui em Brasília, no banheiro de um grande shopping, há um cartaz pedindo: “Por favor, jogue o papel no vaso”. É um absurdo.

Para viver bem, precisamos ocupar o nosso espaço com parcimônia, porque o dividimos com milhares de pessoas. Não basta pensar no hoje, porque tem coisas (como árvores, por exemplo) que só darão sombra e fruto daqui há muitos anos. Não dá pra fechar os olhos e viver apenas pra nós mesmos uma vida auto-centrada, mesquinha e egoísta, por mais que o mundo nos induza a viver assim, precisamos resistir.

Eu quero deixar o mundo melhor depois que eu passar por ele, e quero fazer isso sem visar nenhum lucro. Apenas por agradecimento àqueles que fizeram dele um lugar melhor para eu viver, e em respeito aos que virão depois de mim. (republicação)

14 outubro 2011

É O QUE É...


De tempos em tempos vemos se repetir no mundo, as mesmas e velhas demonstrações de fanatismo, desrespeito ao próximo e violência.
Será que isso nunca terá um fim?
A julgar pela mensagem bíblica do Eclesiastes, não.

"O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol" (Eclesiastes 1:9)

A canção "É o que é" foi composta por mim e integrou o Álbum Cenário, de 2001.
Hoje penso que ela parecia ser profética sobre o que estava por vir no 11 de setembro.
10 anos se passaram, será que aprendemos alguma coisa?

A grande verdade é que todos nós somos, ao mesmo tempo, algozes e vítimas.

13 outubro 2011

FORMAS DE AMAR

Quem ama o corpo ama o momento, é como o incêndio vermelho
de um sol derradeiro que agoniza no céu.

Quem ama a mente recebe as águas de um rio límpido e inesgotável
que se renova e cumpre a missão de saciar a sede humana.

Quem ama o ser que mora no outro é parte do sol que incendeia,
é parte do rio que nutre a alma, completa a constelação de estrelas eternas,
e tudo ao mesmo tempo sente e partilha, num fogo que consome e cria.

Poesia: Formas de Amar e Gravura: Tempo I - Autoria: Silvio Vinhal

30 setembro 2011

6 Horas para Viver


A jornada de trabalho de oito horas diárias na indústria foi instituída no Brasil pelo Presidente Getúlio Vargas, em 1932, e portanto caminha pra completar 80 anos em 2012. Antes dela, os trabalhadores eram submetidos a jornadas exaustivas de 10 a 12 horas, podendo chegar até ao absurdo de 17 horas diárias.

Há 125 anos, em Chicago, a palavra de ordem era: “8 horas de trabalho, 8 horas de sono e 8 horas de lazer.” Esse conceito foi mais tarde conquistado e ganhou espaço no planejamento, em diversas instâncias. Parecia razoável.

Após todo esse tempo transcorrido e mediante o crescimento das cidades, o aumento da população e às dificuldades de deslocamento, de convivência em família e de agregar à vida outras atividades que não sejam “sono” e “lazer” levam-me a pensar que precisamos lutar por turnos menores, de 6 horas.

2 turnos de 6 horas comporiam o novo “horário comercial” ou “horário da indústria” dobrando as vagas de emprego e, com certeza, também a produtividade, porque o que vemos hoje, em toda parte, são operários cansados, privados do sono e da convivência familiar, impedidos de estudar ou alcançar algum lazer.

As 8 horas de sono são um fato para quase todos os humanos. Alguns privilegiados conseguem dormir 6 ou até mesmo 4 horas e, ainda assim, sentir-se inteiros no dia seguinte. Outros, são obrigados a dormir pouco, mesmo necessitando dormir mais, e engrossam as fileiras daqueles que moram distante e pegam cedo no batente. Levam para o trabalho o seu cansaço e sua desesperança, aumentando os índices de acidentes no trabalho e mortes no trânsito.

As 8 horas de lazer sempre foram pura balela. Nas tais “horas de lazer” devemos descontar pelo menos 2 horas para as refeições, higiene pessoal e, no mínimo, 2 horas de deslocamento diário. Aí já se foi a metade do tempo. A outra metade seria todo o tempo que nos restaria para nos deslocarmos até uma escola, estudar, conviver com a família e com amigos e ter algum lazer. E, claro, ao escolher uma dessas atividades as outras estariam automaticamente excluídas. Esse é o mundo em que somos obrigados a viver.

Com turnos de 6 horas um casal poderia, por exemplo, se organizar para que pelo menos um dos dois estivesse em casa com os filhos em um dos períodos do dia. Quem dera pudéssemos construir, assim, uma sociedade com mais valores e mais afeto. Em cidades maiores o comercio e a indústria poderia funcionar em regime de 3 ou 4 turnos, aumentando as vagas de emprego, o período de disponibilidade para as compras e distribuindo melhor o fluxo de pessoas em deslocamento nos horários de pico.

Diminuir o turno para 6 horas equivaleria a um aumento salarial de 25%, e mesmo se o valor dos salários fosse reduzido proporcionalmente em 25%, as vantagens decorrentes da mudança seriam muito maiores, considerando a qualidade de vida do trabalhador e das suas famílias. O aumento do rendimento no trabalho e na escola, e o aumento da possibilidade de mais pessoas retomarem seus projetos de crescimento pessoal, voltando a estudar.

Um abaixo assinado poderia tornar isso uma lei em nosso país, e duvido que alguém votasse contra, ou quisesse se abster, pelo menos nas grandes massas trabalhadoras, onde a mudança causaria o maior impacto positivo.

Turnos de 6 horas, hoje, me parecem uma possibilidade muito justa e atual. Mais do que isso, uma necessidade, um sonho para sonharmos juntos e fazermos acontecer. Um recado aos sindicatos e aos cidadãos antenados. Ajudem a propagar essa idéia.

Silvio Vinhal

11 agosto 2011

A Primeira Vez

Ilustração: Romero Britto


Inesquecível para mim. Foi um vôo curtinho, de Uberlândia para Goiânia, para socorrer um amigo que estava apertado com um trabalho para “ontem”. Ele pagou a passagem. Na época, se me lembro bem, eu estava quebrado. Fiquei imaginando que a necessidade dele era bem grande mesmo, pois uma passagem de Uberlândia para Goiânia naquela época devia custar bastante. De qualquer forma, foi um gesto carinhoso e de grande deferência para comigo. Nem sei se ele tem consciência de como foi importante aquela “passagem” que tratei de apreciar em todos os aspectos visíveis e invisíveis. Para aquele momento, aquele vôo foi simbólico com o princípio de uma “volta por cima”, um retorno aos palcos da vida, onde eu andava me sentindo um simples borrão.

O vôo durava cerca de meia hora. Praticamente 15 minutos subindo e 15 minutos descendo. Viagem curtinha. Nem preciso dizer que passei vergonha logo na saída, pois achei que o povo na sala de embarque era todo para o mesmo avião e me distrai. Quando me dei pela situação já estavam chamando meu nome no alto falante. Gente importante é assim... anunciada no vôo. (haush haush haush)

Pedi assento na janela, claro. Não ia, de jeito nenhum, perder a oportunidade de apreciar a vista, ver a terra do espaço pela primeira vez. Imaginei que tivesse algo de mágico nisso, e tinha mesmo. Era um dia lindo de sol, algo entre março e abril, penso. Céu muito azul e com algumas nuvens. O contraste do branco com o azul era maravilhoso. Senti-me num grande aquário (por causa da sensação de flutuação que as nuvens baixas e espaçadas propiciavam). Algo difícil de descrever, um espetáculo belo e quase silencioso. Numa hora dessas quem sequer se lembra do barulho do avião?

Olhando abaixo entendi Romero Britto*, é bonita demais essa terra brasilis, esses campos reticulados e coloridos, cultivados ou não, terra de todas as cores, rios, elevações, cidades. Impossível descrever as sensações pelas quais fui acometido.

O mundo acontece dentro e fora da gente. A emoção, talvez seja quando esse mundo interior ameaça sair pela boca, pelos olhos, pelos poros. Não há mal definitivo em nossas vidas que possa nos prender sempre ao fundo, ao chão. Aquele vôo simbolizou a virada. Senti-me arrebatado literalmente aos céus. Quando desci em Goiânia eu era alguém mais vivo, mais feliz. Justo eu que havia saído daquela cidade de cabeça baixa, por algumas peças que a vida havia me pregado. Nunca houve outro vôo tão significativo, ainda que eles tenham se tornado bem mais frequentes. Depois daquele dia eu ganhei novas asas.

Silvio Vinhal

*Romero Britto é considerado um ícone da cultura pop moderna, sendo um dos mais premiados artistas de nosso tempo. O artista pop mais jovem e bem-sucedido de sua geração, Britto tem criado obras-primas que invocam o espírito de esperança e transmitem uma sensação de aconchego. Suas obras são chamadas, por colecionadores e admiradores, de “arte da cura”. Sua arte contém cores vibrantes e composições ousadas, criando graciosos temas com elementos compostos do cubismo. Veja mais em:

http://www.romerobritto.com.br/portu/romero.asp


27 julho 2011

Faça / Não Faça!

Silvio Vinhal

Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você.

Não ignore, não menospreze, não despreze, não desmoralize, não trate mal, não roube, não atropele, não mate, não exclua, não estupre, não discrimine, não trate com preconceito, não julgue, não faça chorar, não esqueça, não falte com o compromisso, não engane, não traia, não iluda.

Faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem a você.

Faça carinho, faça amor, faça amar, faça feliz, faça rir, faça acreditar, faça ter fé, faça sentir-se melhor, motive, ajude a crescer, acolha, abrace, sorria, sorria novamente, com os olhos, ouça, caminhe ao lado, apóie, perdoe, quando errar, reveja sua postura, desculpe-se, permita-se voltar atrás.

O mundo anda sem graça, o mundo anda triste, o mundo anda meio rápido, meio vazio, meio besta, meio escroto. O mundo anda meio arremedo do mundo.

Pra não sucumbirmos ao baixo astral precisamos semear flores, amores, jogar luz nos cantos. Recuperar valores. Há algum tempo ouvia muito a frase: “Que mundo estamos criando para os nosso filhos”. Hoje eu acho que a frase que faz mais sentido é: “Que mundo nossos filhos estão criando para nós”.

Torço o nariz por aí com vizinhos que não se cumprimentam no elevador, e que sequer respondem ao cumprimento, quando desejo um bom dia. Também para gente que não tem consciência do espaço que ocupa, e sai por aí trombando e dando bolsadas e mochiladas na gente o tempo todo.

Sofremos de inconsciência de nós mesmos. Há dias que são apenas um número no calendário. Dias apagados, em que esquecemos de viver, em que sequer somos nós mesmos. Pior é quando esses dias “brancos” se tornam semanas, meses, anos.

Nos regozijamos e nos entristecemos e às vezes, quem está do nosso lado nem nos percebe. Será que com o tempo ficamos transparentes? Não falo de mim, especificamente, mas de nós, seres humanos, ou quase humanos.

Eu sou o otimista, aquele que vê o copo sempre meio cheio. No entanto, às vezes também sinto cansaço diante do mundo. Tanto por fazer. Tão pouca gente interessada...

Vam’bora mudar as coisas pra melhor ?

22 julho 2011

Odeio ser gordo!

Silvio Vinhal


Odeio ser gordo. Digo isso e sorriem-me os quibes fritos, as coxinhas, os quiches, as lasanhas, as pizzas, os pavês, os chocolates, as mousses, os sorvetes, os queijos... Ah! Os queijos! Ainda mais para mim, que sou mineirinho, não da gema, mas das beiradas, lá de Ituiutaba. Terra das pamonhas, dos doces e das deliciosas manteigas “de leite”.

Só pensar em queijo e sorriem para mim os pães de queijo. Justo para mim, que sei o que é um bom pão de queijo de avó, com aquele cafezinho inconfundível, que peço sempre a receita e nunca consigo fazer nem parecido. Amor de avó é um tempero sem igual. Quem tem, tem. Pra quem não tem mais, o que resta é uma doce melancolia repleta de sons, cheiros e memórias.

Eu ainda tenho uma avó. Miudinha, esperta, que adora TV, gosta de conversar, de morar sozinha, e de ficar acordada até tarde. Vó Lóla, miudinha, mas um furacão em forma de gente, capaz de ir de zero a 100 em 2 segundos. Adepta de sal – muito sal – e de pimenta – muita pimenta. Essa, do cafezinho, dos pães de queijo deliciosos, do feijão preto, da carne de porco, e que faz um arroz cujo sabor jamais encontrei em outro lugar. Penso que não existe um arroz mais gostoso que aquele.

A outra avó, infelizmente, só tenho no coração e na memória. Uma mulher grande, mezzo italiana, de cabelos incrivelmente brancos. Calada e terna. Carinhosamente discreta. Lá, sorriam-me sempre deliciosas macarronadas, ou a “pizza da vó Nenê”, que na verdade era uma torta de frango, de.li.ci.o.sa! Na casa dessa avó lembro que me sorriam deliciosos pavês de ameixa, ai meu Deus!!!

Minha mãe sempre tirou leite de pedra. Fazia qualquer comida ter cheiro e um sabor maravilhosos. Aprendeu direitinho a valorizar a vitamina contida em cada alimento, cada pequeno pedaço de carne, ainda que às vezes o dinheiro só desse pra comprar barrigada de porco pra aproveitar a banha e utilizar a pouca carne para dar sabor à comida. Depois, quando as vacas engordaram um pouquinho, ela ficou sofisticada e fazia sorrir para nós deliciosas galinhadas, frangos com macarrão e pratos árabes que não sei de onde ela tirava a receita, como aqueles deliciosos quibes assados ou Mafufos enrolados em folhas de couve ou repolho. Esses, lembro bem, sorriam-me muito!!!

Meu pai não deixava por menos. Herdou a boa mão da mãe e gostava de fazer pão de queijo de batata, rosquinhas enroladas com leite condensado – cujo nome mais tarde descobri ser “Rosca Húngara” e, aos domingos, um delicioso arroz com suã de porco.

Não podia ser diferente, herdei todo esse bom DNA para a cozinha, claro! Modéstia à parte, faço rangos bem gostosos, embora prefira seguir a intuição do que utilizar uma receita. Às vezes erro, mas prefiro ter alguma liberdade para criar.

Enfim... Odeio ser gordo. Porque preciso emagrecer, mesmo sabendo de tantas coisas deliciosas que me sorriem (hoje mais nas lembranças que na vida real). Hoje são as saladas que me sorriem, e eu as adoro. Abro mão de qualquer sabor pelo prazer de me sentir leve, íntegro, ágil. Procuro fazer tudo certinho e, mesmo assim, talvez o Karma de tanta coisa gostosa que já comi na vida, ainda me persiga.

20 julho 2011

A Amizade

Silvio Vinhal

A amizade, para mim, é como um amálgama que junta todas as outras coisas. Não acredito em relação entre seres vivos, humanos pelo menos, se não for por meio dela. Não sei se posso dizer que tenho muitos amigos, mas tenho amigos muito valiosos. Não importam em quantidade, mas na qualidade de seres humanos que possuem.

Eu talvez não seja para eles um amigo muito bom. Não gosto muito de telefone, sou desligado para datas de aniversário, esqueço nomes com facilidade, e acabo me dedicando tanto ao trabalho que, às vezes, me torno quase antissocial.

No entanto, não esqueço dos meus amigos. Às vezes digo que gostaria que no fim dos tempos, de alguma forma, fosse possível que as pessoas que amamos vissem, de uma forma mais concreta, o quanto as amamos.

Disponibilizo para os amigos uma imensa conta no banco da minha tolerância, do meu carinho, da minha atenção, do meu amor. Encaro até mesmo alguns vacilos, pisadas de bola ou pequenas “traições”. Acredito nas voltas, sou capaz de perdoar verdadeiramente. Procuro sempre ter tempo, até mesmo quando ter tempo significa “tolerar” alguns abusos.

Sinto uma saudade quase visceral dos amigos que desapareceram no tempo. As vezes me pego pensando se me esqueceram, ou onde foi que se perderam, já que hoje todo mundo está ao alcance de alguns cliques. A internet está aí e é capaz de suprir muito da saudade, da distância, do tempo passado longe. Então, me pego pensando se aqueles que sumiram simplesmente me esqueceram, morreram ou se vivem num mundo onde a internet ainda não faz muito sentido.

Saudade visceral que aumenta, quanto mais era próxima a amizade. Cadê esse povo, meu Deus? Às vezes fico com a impressão de que eram atores em um ato da minha vida, e que sumiram porque tiveram que se revestir de outros personagens nos atos subsequentes. Uma idéia maluca que já imaginei até transformar em peça de teatro.

Minha amizade por meus velhos e novos amigos hoje está, sobretudo, na rede. Não conhece fronteiras ou línguas. Aos poucos vou reunindo, descobrindo, reagrupando amigos de épocas e lugares diferentes, e todos são essenciais para mim. Cada um com sua própria importância na forma como me ajudaram a ver o mundo, a amar, a sentir-me sempre e sempre, amparado e amado.

Não posso citar nomes sem correr o risco de esquecer alguém, no entanto, eles (os nomes) fervilham na minha cabeça enquanto escrevo, junto com os rostos e as cenas de algumas lembranças que ficaram preservadas em minha memória.

Peço a Deus que preserve cada um deles, que nos propicie novos encontros pela vida, ainda que seja para falar dos filhos e netos, para falar de dores e perdas, de medos e mazelas. Sobretudo, que seja para viver e para falar de quanto a vida é bela, porque nos sentimos seguros nos braços (ou no alcance – ainda que via internet) do carinho dos companheiros que escolhemos para compartilhar a vida.