12 fevereiro 2006

Três poeminhas / ou seriam poemeus?



Precaução
Minha vida já passou do meio dia.
Não dá mais pra tomar esse sol da tarde
Impunimente.

BH 5:25 3-3-2005 Cabeça AceleradaO dia amanheceu
E eu nem dormi!
Eita cabeça acelerada, Que não quer sonhar, Mas não se cansa
(como eu me canso)
De urdir.
BH 5:50 3-3-2005

Um Risco NovoNem tudo são flores,
Mas a gente inventa Um risco novo,
E até corre, algumas vezes,
O risco de florescer.

BH 5:35 3-3-2005 - Poemas - Silvio Vinhal Ilustrações: Detalhes de naquim, do mesmo autor

11 fevereiro 2006

Insônia


A fresta de luz que entra pela minha janela é testemunha das minhas noites maldormidas,
e o ruído dos trens que brincam nos trilhos distantes preenche a tarde longa e inquieta que ainda habita em mim.
Essa fresta de luz é o meu pensamento aceso divagando sobre conversas do dia ou em sonhos que sonho acordado e que nunca se realizarão.
Essa fresta de luz é uma fogueira que me queima toda noite e lembra que o tempo urge e eu ainda não me encontrei.


Poesia: Insônia - Silvio Vinhal
Ilustração: Colagem do mesmo autor

A Viagem

Na viagem de volta eu viajei além da janela, observando tapetes verdes sob uma manhã ainda tenra.
A luz do sol, oculta, se pronunciava em tons de laranja difuso, manchando a seda perolada do céu daquela hora.
A lua relutava em ir embora, enquanto o sol se espreguiçava atrás dos lençóis do horizonte.
Meu olhar, levado pelo movimento do automóvel, percorria o topo das árvores. Movimento e êxtase enchiam meu peito.
Eu respirava o ar frio da manhã, como quem aspirava essa beleza toda.
Acho que era paz.

Poesia: A Viagem - Silvio Vinhal
Ilustração: Detalhe de um guache, do mesmo autor

10 fevereiro 2006

Formas de Amar

Quem ama o corpo ama o momento, é como o incêndio vermelho
de um sol derradeiro que agoniza no céu.

Quem ama a mente recebe as águas de um rio límpido e inesgotável
que se renova e cumpre a missão de saciar a sede humana.
Quem ama o ser que mora no outro é parte do sol que incendeia,
é parte do rio que nutre a alma, completa a constelação das estrelas eternas,
e tudo ao mesmo temo sente e partilha, num fogo que consome e cria.
Poesia: Formas de Amar - Silvio Vinhal
Ilustração: Gravura Tempo I - do mesmo autor

09 fevereiro 2006

Tudo Bem


Minha tez no espelho
Não tão clara,
Não tão macia,
Não tão lisa.

Aquele menino continua lá,
Encapsulado,
Olhando através dos meus olhos
E segurando as grades
Da minha vida adulta.

Tudo está bem,
Embora as cores se encantem
Com os matizes gris e prata.
E tudo vá ficando (um pouquinho apenas)
Mais pálido.



Poesia: Tudo Bem - Silvio Vinhal - BH 3/11/2004 16:02Foto: Claudio Moreira

Grito


Stop!
Entre o instante e o instante
o que subsiste aqui é um grito.

Minha farinha de osso,
os meus cacos que junto todos os dias
e sem queixa
continuo a carregar.

O grito não é de lamúria
é pra demarcar território.

Poesia: O Grito - Silvio Vinhal
Ilustração: Detalhe de gravura, do mesmo autor

Fogo de Gelatina em Pó


Um dia minha irmã, Sandra Vinhal, escreveu essa frase enigmática numa poesia que, anos mais tarde, musiquei e denominei "O Enigma" . (a letra toda da música - a poesia dela sofreu intervenções minhas - pode ser lida em www.silviovinhal.cjb.net)

"Por ser verdade
o belo é belo
e as árvores trazem em si
todo o ardor de chamas
vermelhas e azuis
fogo de gelatina em pó."

Seus versos foram muito felizes, porque dizer que o belo é belo porque é verdadeiro, é uma definição inusitada, mas muito boa.
E ela continua dizendo que: "as árvores trazem em si fogo de gelatina em pó".
A força dessa imagem poética pra mim foi arrebatadora.
Olhar as árvores como fogo factível, é deslumbrar nelas a força do fogo, ainda que vivas, latejantes, verdes.
O fogo é transformador, nem bom nem mal em si mesmo. É, sobretudo, necessário.
Somos nós que, diante da beleza, podemos contemplar sem destruir, ou optar pela mentira, pelo feio, pela destruição em vão, sem propiciar vida, sem aquecer, apenas como um espetáculo pirotécnico vazio.
Amazônias - florestas humanas inteiras - têm sido destruídas todos os dias.
Esse blog é o registro quixotesco de um romântico do século XXI. Imagens, poemas e pensamentos nem sempre claros, mas sempre sinceros.
Achei o título adequado porque é enigmático, é instigante e, sobretudo, remete a algo que está por acontecer.
Eu ofereço essa caixinha nova de gelatina, sabor fogo, mas é você quem decide se dela provará ou não.
__ Dissolvo em água quente?