12 outubro 2009

A MÁGICA

Foto: Otavio Bergonsi

Crochê

Silvio Vinhal

O tempo teceu anéis de conchas.

Bege aqui, branco acolá,
como um crochê de cálcio e paciência
fazendo barra nas horas
que o vai e vem das ondas marcou como relógio.

Minha avó também tecia conchas no sofá da sala.
Passávamos sem ver a mágica que brotava de suas mãos,
barulhentos, como ondas impacientes.
Ela, uma grande rocha onde quebrávamos sempre,
indicava nossa praia,
nosso ponto de origem e de chegada.

09 outubro 2009

A ROCHA

, Céu da Bahia / Foto Silvio Vinhal

A ROCHA

Silvio Vinhal

A fogueira se extingue,
O rio muda o curso, seca.
A árvore envelhece
e Perde a força do broto.

As paisagens mudam de cor dia após dia.
Primavera, verão, tantos invernos.
Outonos esquecidos
No morno do entrelençóis.

As ondas vêm e voltam cansadas,
Como pescadores no fim da tarde.
Um dia a pesca farta,
no outro, fadiga apenas.

O sol cansado de tingir o céu,
Amarelos, púrpuras, laranjas, escarlates
Anis, azuis inexistentes.

A rocha de algum amor apenas,
Subsiste imutável na paisagem.


03 outubro 2009

CASTELOS AO VENTO

Castelos de vidro

Silvio Vinhal

Castelos de cartas
No meio da ventania
Corre / pega / junta
Nunca mais castelos
Nunca mais cartas
Nunca mais brinquedo.

Cai o canhão de luz
Sobre a cidade...
Nunca mais ingenuidade
Nunca mais tristeza
Nunca mais dor sem porquê.

Corre / pega / junta
Cacos como cartas.
Alguma coisa estilhaçou no peito
E não era vidro.

01 outubro 2009

INDI-GESTO

Indi-gesto

Silvio Vinhal

O gesto se interrompe
e nega o carinho espontâneo.
Crise entre o sentimento e a razão,
conflito de uma era mutante
onde todos se sentem órfãos
de um planeta esquecido, vulgar,
perdido entre tantos zilhões
de astros mais interessantes.

O gesto se interrompe
e o amor torna-se prisioneiro do medo,
do silêncio,
prisioneiro do tempo.

O gesto torna-se indi-gesto,
e o rosto queima
na fogueira injusta
das convenções sociais.
O gesto se interrompe
e a vida deixa de acontecer.
O carinho se perde
antes de chegar a ser.