06 fevereiro 2008

Não é Fácil Amar

Imagem de Tiago de Sousa Lopes


É engraçado como ainda nos sentimos sós e distantes das pessoas que amamos, mesmo tendo ao nosso alcance tantos recursos tecnológicos. O mundo se expandiu tanto que levou as pessoas do nosso convívio. Fragmentou as famílias e nos afastou dos amigos de infância, de colégio, de juventude, de faculdade.
Mesmo com tantos recursos à mão, seja através da telefonia ou da internet, às vezes bate uma saudade grande demais, uma vontade de outros tempos, de estar junto daqueles que são importantes em nossas vidas. É melancólico o tema desse blog de hoje. Estou melancólico.

Foram compridos demais esses dias de carnaval. Cansei de não encontrar ninguém conhecido nos milhares de rostos que pupulavam na tela da tv, nas brincadeiras de carnaval pelo Brasil. Não que eu esperasse encontrar alguém conhecido ali, mas justamente pelo anonimato daquela multidão, indiferente para mim, e ao mesmo tempo capaz de provocar esse estranhamento e essa saudade melancólica.

Eu sinto muita saudade de pessoas que passaram pela minha vida, e que desapareceram como que por mágica. Pessoas que não deixaram nenhum rastro, nenhum contato, como se fossem personagens (figurantes) de uma peça de teatro, que saíram de cena de vez depois do primeiro ato, pra ser figurantes em outros papéis, perdendo-se e se reinventando na pequenez e no distanciamento de seus respectivos papéis. Importantes ou não, desapareceram pra sempre na sombra do tempo, na coxia dos anos pelos quais perpassei.

Minha família também está distante, e no mais profundo do meu íntimo eu sofro todos os dias a angústia de saber que talvez nunca mais possamos conviver como já foi um dia, no passado. Agora é preciso que eu me contente com encontros fortuitos, em finais de semana prolongados, natais, anos novos, escassos momentos onde infelizmente nem sempre é possível desfrutar da intimidade de cada um, mesmo que seja por alguns minutos.

Lutamos muito nas batalhas de cada dia. Com sucesso ou fracasso, nos distanciamos das pessoas que amamos. Seria esse o amargo preço que a vida nos cobra? O que é possível fazer então para minimizar esse distanciamento a que nos obrigamos? Vale mesmo a pena?

Só sei que o crescimento nos propõe desafios difíceis, e que, apesar de nos afastarmos do convívio daqueles que amamos, é graças a esses desafios que enfrentamos que passamos a ser por eles admirados e, talvez, ainda mais amados. É preciso recuperar a fórmula do carinho, do afeto. É preciso acender a fogueira que nos reúne, mesmo que esporadicamente, e cuidar para que ela nunca se apague.

Eu tenho medo que as notícias ruins sejam mais rápidas que a minha capacidade de mobilização para ir ao encontro dos meus amados. Acho que essa angústia vai me acompanhar pra sempre, ainda que eu finja não ligar e tente focar meu pensamento – e meu sentimento – em outro lugar.

Tenho medo do desabamento lento e gradual da nossa estrutura humana, frágil, perecível. Queria poder tocar a trombeta do alerta e conter todo o tempo possível, antes que qualquer fatalidade se instale, só pra curtir um pouco mais os abraços, os sorrisos, o carinho e o sentimento todo oculto atrás dos olhares, dos gestos, transmutados em comidas, em doces, em presentes, em telefonemas, e-mails, cartas...

Conter o tempo, pra conter (em mim, em nós) todo o sentimento.
Amar, definitivamente, não é algo fácil.

Melancolia, Edvar Munch, 1891

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Saudade, s. f., Vocábulo considerado sem equivalente noutras línguas e que exprime multiplicidade de sentimentos, sobretudo a melancolia causada pela lembrança do bem do qual se está privado. Pesar, mágoa causada pela ausência de alguém ou de objecto querido. Pesar, desgosto, tristura emanados de alguma recordação alegre ou magoada.

6 comentários:

Anônimo disse...

Silvio

Definitivamente "o divino" te colocou no meu caminho.
Vc é uma alma linda e agradeço todos os dias poder te ter como meu amigo, meu amor, pessoa iluminadaç
te amo
Ze Luiz

Wolney Fernandes disse...

Silvio
amigo amado de distâncias múltiplas. Quanta saudade de nossas conversas e partilhas. Tenho acompanhado o novo fôlego que deu ao seu blog e sempre fico fascinado com sua sensibilidade para discorrer sobre temas delicados.
Este comentário é para afirmar que, mesmo "sumido", nossa comunhão de almas continua para sempre.
Bjs melancólicos.
Wolney

Anônimo disse...

Amigo.... o importante é q bons momentos foram experimentados... tanto e tão intensamente que... deixaram saudade! deixaram marcas!
Tomara que possamos experimentar mais momentos deliciosamente marcantes!!!
Te amo!
Beijoooooooooooooooooos

Anônimo disse...

É Silvão, realmente temos momentos de melancolia. Esta cidade Bucólica em que moramos ajuda bastante a impulsionar este turbilhão de sentimentos. Você tem razão, os desafios da vida vão lapidando nossa alma aos poucos.Forte abraço

Unknown disse...

é Silvio , seu texto toca mesmo
na alma, essa que vc diz sentir angustiada...
e acho que devemos mesmo ficar atento para que tudo nao fique digitalizado..
mas calma....
a minha alma nao vai ser digitalizada nem a sua nem a do João nem a da Maria
daqui um tempo temos é que arrumar mais tempo e utilizarmos da tecnologia pare que o contato se torne masi humano , mais próximo...
abraço...
como vc escreve bem rs....

Anônimo disse...

Acabei de ler "Travessuras da menina má", de Mario Vargas LLosa. Também, como em seu ensaio, trata das dificuldades de amar e de viver. Um romance em torno do amor definitivo do personagem principal. Desde a juventude até o fim do livro. É o desenrolar de lembranças, nostalgias, ausências, fugas, valores equivocados, retornos à essência, e por aí vai a estória. Recomendo como distração literária e reflexão. Ver, em ficção, o desabamento do passado irrecuperável. O ir sem volta...