Há em mim uma
poesia contida,
como o badalar
de um sino que não badala.
Como o som de
um violino que nos recorda a alma 
(mas que não
ouvimos).
Lá fora cai a
chuva de todos os ciclos, 
num ritmo
cálido e triste, 
mas o coração
está feliz e ouve o ritmo 
como uma
canção de alegria que nos conforta a alma.
Há sorrisos na
memória. 
Rostos, mãos e
gestos. Silhuetas amadas 
e esquecidas.
Há um
burburinho dizendo 
que tudo se
confunde numa coisa só.
O amor por
cada pessoa é o amor por todas as pessoas.
O corpo é
apenas um braço, a mão,
Uma fagulha
que de nós se estende rumo a outro ser.
Não importa
sexo e cor,
o amor
acontece de um ser a outro, 
e outro, e
outro,
Porém, ser ser
promíscuo, 
ama um a um e
ao mesmo tempo ama a todos,
Porque não há
limites para o amor.
O amor não
conhece a gravidade, o tempo, o espaço,
Não se acomoda
em recipientes vazios.
Pelo contrário,
cresce sempre, 
como o ar
quente que se expande, mais e mais,
Como a água
que está sempre fugindo.
(olhando de
perto vemos que não é uma fuga)
É um destino,
um caminho, 
que se
contorce nas pedras do rio,
Abre passagem,
supera desafios e vai, vai sempre, 
em busca de um
destino,
Sombrio,
desconhecido,
Mas cheio de
sonhos que projetamos,
Silhuetas que
amamos 
e que retornam
na sombra que as folhas 
desenham no
chão.
Há um grito de
dor, desejo irrealizado, 
frustração!
Mas há um
grito mais forte, de júbilo:
O tempo é
senhor da razão... 
e valerá a
pena qualquer amor,
Qualquer amor
valerá!
Poema do Livro O Tempo e o Jardim, Silvio Vinhal, Artcontato Editora, 2013
Foto: Cláudio Moreira